Turbulência eleitoral

Reginaldo Villazón

No primeiro turno da eleição presidencial de 2018 – três semanas atrás – os eleitores colocaram em primeiro lugar Jair Bolsonaro (PSL) com 46,03% dos votos válidos e em segundo lugar Fernando Haddad (PT) com 29,28% dos votos válidos. A soma da votação dos demais candidatos ficou em 24,69% dos votos válidos.

Com base nos resultados do 1° turno, será mais fácil a Jair Bolsonaro conquistar parte dos eleitores dos demais candidatos para crescer 3,98% e atingir a maioria dos votos válidos. E será mais difícil a Fernando Haddad conquistar parte desses eleitores para crescer 20,73% e atingir a maioria dos votos válidos.

Mas a eleição tem maior participação eleitoral. Não basta olhar apenas os 107,05 milhões de eleitores que registraram votos válidos. Também é preciso enxergar os 10,30 milhões de cidadãos que registraram votos inválidos (brancos e nulos) e mais os 29,94 milhões que se abstiveram de votar. Estes cidadãos formam um contingente de 40,24 milhões de eleitores com direito de votar no segundo turno.

Dizem que primeiro e segundo turnos são eleições diferentes. De fato, os eleitores se vêem diante de situações diferentes e suas percepções os fazem repensar decisões. No primeiro turno destas eleições, ficou patente a preferência dos eleitores por candidatos com discursos fortes. Foi isto que levou Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes a serem os mais votados, apesar de manifestarem tendências diferentes.

Neste segundo turno, os pólos concentradores de energias políticas se localizam, de um lado, em Bolsonaro (PSL), uma incerteza cheia de propósitos exaltados de rompimento com instituições vigentes. E, de outro lado, em Haddad (PT), uma certeza cheia de conteúdos ideológicos que deixaram rastros nebulosos.

O acirramento da disputa neste segundo turno é reflexo das intolerâncias de ambos os lados. O clima de tensão política sobre a população brasileira – perturbada pela violência urbana, pela precariedade dos empregos, pelos custos do ensino superior privatizado – fez eleitores se transformarem em militantes digitais numa competição em que ambos os lados podem levar o país a uma radicalização geral.

Não foi por acaso que o Instituto Datafolha fez uma pesquisa sobre Risco de Ditadura no país. Para muitos brasileiros, o simples exercício democrático do voto alimenta o ódio que existe na rixa entre "direita e esquerda, bons e maus, honestos e desonestos". Sem presumir quem vencerá a eleição, o futuro causa preocupação. Esta preocupação (ou medo) vai sensibilizar os votos válidos, votos inválidos e abstenções.

No entanto, apesar das condutas grosseiras e dos atos de violência, fica absolutamente claro que os eleitores brasileiros evoluem mais rapidamente do que os políticos. Em plena turbulência eleitoral, o povo brasileiro não acata nem alardeia idéias de autoritarismo, de exclusivismo ideológico, de intransigência contra minorias. Isto é suficiente para que não se percam a confiança e a esperança.

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