Operação Gestas II: MPF denuncia grupo que desviou 42 milhões de maços de cigarro apreendidos pela Receita

Acusados atuavam em empresas que prestavam serviços ao Fisco em Araraquara (SP); esquema envolvia camuflagem de caminhões e manipulação de circuito interno
O Ministério Público Federal denunciou sete pessoas que desviaram 42 milhões de maços de cigarro do galpão da Receita Federal em Araraquara entre 2013 e 2017. O esquema foi alvo da Operação Gestas II, deflagrada no mês passado pelo MPF em atuação conjunta com a Polícia Federal. Os envolvidos estão vinculados a três empresas que prestavam serviços à Receita para administrar o espaço onde são armazenados itens apreendidos em ações de fiscalização do órgão. Calcula-se em R$ 124,5 milhões o valor total das mercadorias desviadas durante os cinco anos.

Os denunciados ocupavam diferentes posições hierárquicas nas empresas e devem responder por peculato e participação em organização criminosa. Coordenando a gerência do galpão, a vigilância e o monitoramento da portaria, eles viabilizaram o livre acesso dos veículos que realizavam o transporte dos produtos. Segundo as investigações, as remessas quase diárias eram feitas por meio de caminhões identificados como coletores de resíduos, que entravam vazios e saíam carregados de cigarros sem serem vistoriados. As mercadorias eram distribuídas aos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco.

O grupo cuidava de todos os passos para despistar tanto os demais funcionários do local quanto eventuais inspetores. Seguranças e porteiros eram orientados a não anotar a entrada e a saída dos veículos. Os envolvidos desativavam ou mudavam a posição das câmeras internas, e as imagens ainda passavam por edição para se eliminar qualquer possível gravação dos carregamentos. Quando os desvios se realizavam no período noturno, lâmpadas do depósito eram desligadas, dificultando ainda mais a identificação das atividades. As caixas originais dos cigarros eram mantidas no galpão vazias ou preenchidas com materiais como papelão e plástico.

A apuração dos crimes durou dez meses. A denúncia baseia-se em provas colhidas a partir de autorizações judiciais para apreensão de documentos, interceptações telefônicas e quebra do sigilo bancário dos envolvidos. A Operação Gestas II contou também com informações obtidas por meio de um acordo de colaboração premiada que um dos integrantes do grupo firmou com os investigadores.

O número processual é 0005309-57.2017.4.03.6120.

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