Falta é vergonha

 
José Renato Nalini é Desembargador, reitor da UniRegistral e
palestrante e conferencista

Em recente artigo, Oded Grajew, idealizador do Fórum Social Mundial, respondeu a Clóvis Rossi, que criticou a inexistência de modelo econômico capaz de oferecer esperança às pessoas. Para Oded (FSP, 19.4.18, p.A3), o problema é a destinação de 82% de toda a riqueza gerada em 2017 para 1% dos mais ricos. 1% dos mais ricos detém mais riqueza do que todo o restante da humanidade.

Para atender à ambição dos que acumulam riqueza, "nossa biodiversidade e nossas florestas estão sendo dizimadas e o aquecimento global produz alterações climáticas extremas, transformando terras férteis em desertos elevando o nível dos mares e ameaçando a própria existência da espécie humana".

Somente os cegos à miséria do mundo, os surdos aos clamores dos excluídos e os de coração insensível não percebem que o novo modelo econômico deveria adotar o eixo central da redução das desigualdades e preservação dos recursos naturais. É dessa forma que se protege a continuidade da vida no planeta.

Grajew oferece opções: imposto internacional sobre todas as transações financeiras mundiais, o fim dos paraísos fiscais, adoção do piso vital mínimo. Os investimentos militares deveriam ser convertidos em investimentos sociais.

Os recursos públicos deveriam estimular o trabalho não poluente, que não agrida ao meio ambiente, como nas áreas artística, cultural, esportiva, educacional, científica, médica e de preservação ambiental. Apoio efetivo aos grupos sociais mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com deficiência.

Na verdade, o problema não reside na falta de ideias, propostas, recursos e conhecimentos. Está na falta de vontade política e de consciência dos poderosos. Estes só pensam no próprio interesse, no egoísmo imediatista que não enxerga senão a próxima eleição e o que é possível arrancar deste povo sofrido e entregue à sanha multipartidária, que só está ligada na obtenção de benefícios pessoais.

Alguém está pensando em eliminar as dezenas de partidos que só servem para promover a venda de espaço na TV ou para servir de roupa de aluguel a quem quer conquistar imunidade ou foro especial? Por que não se pensa em extinguir o Fundo Partidário e que os partidos sejam sustentados pelos seus filiados?

Seria um bom começo. Mas quem acredita que o esquema leve a sério uma proposta como essa?

Não faltam projetos, nem propostas, nem planos. Ao Brasil, o que continua a faltar, é o ingrediente vergonha.
 

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