Democracia sob loucura

 
Gabriel Leite Mota é graduado e doutorado na Universidade do Porto – é o primeiro economista português especializado em Economia da Felicidade. Atua como professor, periodista e conferencista. Fonte: Prensaescrita.com/Europa/Portugal.

Uma das formas de exercer a liderança é através da loucura. Há transtornos de personalidade que favorecem a capacidade de reunir apoios e traçar caminhos. Nos últimos tempos temos assistido a diversos exemplos de eleições democráticas em que a loucura ganha terreno no mundo.
Nada disso é novo. O passado está cheio de situações em que loucos se elevaram ao poder. Egomaníacos, mitómanos, megalómanos e sociopatas – muitas vezes – ostentaram características que os tornaram propensos a abraçar as aventuras do poder e a serem capazes de cativar as massas.
Os líderes loucos são muito convincentes porque acreditam nas mentiras que eles mesmos dizem. Eles fazem promessas tentadoras, não sentem medo de se arriscar. Utilizam todos os tipos de mentiras e ardis para chegarem ao poder e se manterem nele.
Este fato pode ocorrer em todo local onde há poder, mesmo onde o poder é pequeno, como num condomínio, numa cooperativa ou numa associação estudantil. É óbvio que o poder nas mãos de insanos se torna mais perigoso quando se fala na liderança de países, de organizações supranacionais, de grandes empresas e até de grandes igrejas.
Nas empresas, muitos estudos demonstram que a psicopatia é uma característica comum entre os Chefes. Eles desprezam os sentimentos alheios e por isto passam por cima dos subordinados para atingirem os resultados desejados. Nas igrejas, muitos líderes espirituais conseguem construir fortunas e impérios de poder, instituindo a alienação das massas de seguidores liderados.
As lideranças políticas desatinadas utilizam a capacidade de convencimento através de discursos – ora objetivos, ora exaltados –, prometendo decisões e ações fabulosas. Enaltecer o nacionalismo tem sido um ingrediente típico dos demagogos loucos.
Os problemas surgem mais tarde, porque todas as estratégias enganadoras estão condenadas ao fracasso um dia. Quando tudo começa a correr mal, torna-se visível o monstro que está instalado no poder. Ele age sem preocupação de enterrar consigo a organização que lidera e as pessoas que o acompanham.
A História mostra que estes líderes loucos acabam por arrastar as comunidades que lideram para a desgraça. Hitler levou o povo alemão à morte. Líderes religiosos levaram suas comunidades ao suicídio em massa. Dirigentes esportivos quase extinguiram seus clubes por não aceitarem abdicar do poder.
A questão é difícil. Como podemos proteger nossas instituições democráticas desses loucos? Sabemos que eles exercem influência e conseguem obter resultados. Penso que existem duas ferramentas principais para combater esse mal.
A primeira é a educação do povo. Quanto mais pessoas estiverem educadas, advertidas contra os discursos demagógicos e alertadas para a detecção dos sinais de loucura, menos possibilidades elas terão de se deixarem iludir.
A segunda é a melhoria das organizações democráticas. Será melhor, quanto mais representativa for a democracia, quanto mais eleições diretas existirem, quanto maior for o número de representantes diretos do povo nas organizações e quanto maior for a transparência dos atos de gestão. Assim ficará difícil o poder ser tomado por loucos.
Há exemplos importantes desta maleita social em várias democracias deste Século XXI. Os perigos de novos casos se apresentam em cada eleição. Temos muito a fazer no combate a esta terrível doença que ronda a democracia.

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