O poder concentrado

Ladislau Dowbor é economista e professor de pós-graduação da PUC – SP. Seu último livro – A era do capital improdutivo – foi lançado em 2017 com grande repercussão.



Os 28 maiores grupos financeiros do mundo – juntos, em 2012 – tiveram um balanço acima de 50 trilhões de dólares. Um valor imenso, avaliado em 70% do PIB mundial de 73 trilhões de dólares. Outro dado surpreendente de 2012: a dívida pública mundial (49 trilhões de dólares) foi praticamente igual ao faturamento dos 28 maiores grupos financeiros.

De imediato, podemos deduzir que – em nível mundial, em decorrência do endividamento dos países com os gigantes financeiros – os governos públicos se transformaram em reféns dos agentes financeiros privados, tornando-se incapazes de regular o sistema financeiro de acordo com interesses do povo.

Hoje o poder político dos grandes grupos financeiros – através do mecanismo da dívida pública – garante a eles um poder suficiente para impor nomeações a postos chaves nos ministérios da fazenda, nos bancos centrais e nas comissões parlamentares pertinentes. O objetivo das corporações financeiras é favorecer sempre a economia neoliberal.

Por outro lado, os governos reduzem os investimentos públicos e as políticas sociais para assim honrarem os pagamentos de juros e satisfazerem politicamente o mundo financeiro. Este é o resultado da força econômica e política das corporações financeiras.

Os gigantes financeiros também controlam as operações financeiras do chamado Mercado Futuro. O volume atingido em 2015 – 600 trilhões de dólares – foi oito vezes o PIB mundial. Assim, eles controlam o comércio mundial de grãos (milho, soja, trigo, arroz), de minerais metálicos, de minerais não metálicos e de recursos energéticos.

Outro importante instrumento de poder dos gigantes financeiros está no o uso dos paraísos fiscais. Para o PIB mundial de 73 trilhões de dólares (em 2012), o montante de recursos financeiros em paraísos fiscais foi de 21 e 32 trilhões de dólares. Estes recursos – improdutivos e em boa parte ilegais – poderiam financiar novas tecnologias capazes de beneficiar bilhões de pessoas marginalizadas e proteger a natureza do planeta.

O poder excessivo nas mãos dos gigantes financeiros obriga as empresas produtivas – geradoras de bens e serviços – a se submeterem às exigências da rentabilidade financeira. Isto fragiliza a decência profissional e a ética empresarial. Isto causa um conflito entre a busca do desenvolvimento e a obrigação de remeter recursos para o topo da hierarquia financeira. Da mesma forma, os governos dos países têm que atender ao mercado financeiro e virar as costas para a população.

É espantosa a acumulação de tanta riqueza nas mãos de apenas 0,01% da população mundial. Somente 62 pessoas bilionárias são donas de mais riqueza do que a metade mais pobre da população mundial. É comum uma economia passar por recessão, enquanto seus bancos tenham os lucros aumentados.

Há uma coisa que não falta no mundo: recursos financeiros. O avanço da produtividade resulta essencialmente da revolução tecnológica, mas os autores das inovações não colhem as vantagens produzidas. Eles estão no setor público e no empresarial. O sistema financeiro, este sim, arrecada muito sem contribuir.

As populações – de países como do Brasil – que buscam resgatar um pouco da sua soberania, ficam impotentes. Perplexas e endividadas, veem seus "nomes sujos" aparecerem nas listas de inadimplentes. Mas contribuem com o pagamento de altos juros.

As regras do jogo – profundamente deformadas – são apresentadas como fruto de um processo democrático legítimo, como se "todo o poder emanasse do povo". Porém, na realidade, é preciso resgatar a democracia da caricatura que ela se tornou.

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