Ensino criativo

Paula Adamo Idoeta,
jornalista da BBC Brasil em São Paulo SP

Numa sala de aula, crianças desenham formas geométricas e escutam música. Em outra sala, fazem cálculos e batem palmas com ritmo. Em outra, estudam história e cantam canções antigas. E em outra, recitam poemas de literatura em forma de rap.
Estas cenas fazem parte da pedagogia adotada na Escola Primária Feversham, uma escola pública da cidade de Bradford (Inglaterra). Foi assim que a escola saiu da lanterna do ensino britânico e entrou no grupo de elite das escolas com crianças de 2 a 11 anos.
Até alguns anos atrás, a Feversham estava na categoria das escolas "carentes de medidas especiais para melhorar", pois o sistema educacional britânico detectou que seus resultados estavam abaixo do padrão de qualidade desejado.
As dificuldades eram variadas. A escola fica numa região da periferia da cidade com níveis elevados de tensão social e criminalidade. Boa parte dos alunos pertence a famílias de imigrantes paquistaneses e tem o inglês como segundo idioma.
A direção da escola tentou vários métodos pedagógicos para melhorar o ensino, mas esses métodos convencionais não deram êxito. A alternativa foi usar a música e artes, seguindo uma abordagem pedagógica criada pelo húngaro Zoltán Kodály (1882-1967). Foram incorporados canções, jogos e brincadeiras no ensino de todas as disciplinas.
Essa abordagem se fundamenta na aprendizagem musical realizada através da observação, da repetição e de movimentos corporais. É a forma como aprendemos desde cedo a linguagem: inconscientemente, observando e repetindo os adultos.
O método abraça a idéia de que a expressão musical floresce naturalmente nas pessoas, promovendo a concentração e a socialização, e isto pode ajudar o desempenho das crianças no aprendizado das disciplinas escolares.
Ao utilizarem música, as crianças aprendem a pensar, a se expressar, a se socializar, a serem autoconfiantes. Cantar também ajuda a aprender outro idioma. Por isto, as crianças também melhoraram seu desempenho na língua inglesa.
As avaliações mais recentes da Escola Primária Feversham a colocaram entre as que mais registraram avanços em leitura, escrita e matemática. Ela foi referida como uma escola que promove o crescimento social, moral, cultural e espiritual dos alunos.
No Brasil, pesquisas acadêmicas analisaram a música no ensino. Em 2013, um estudo avaliou o impacto da música na aprendizagem de crianças com dificuldade de leitura. Foram constatados efeitos positivos no desenvolvimento de alunos que tiveram aulas de música incorporadas em seu currículo escolar.
A música ajudou as crianças no treinamento e no desenvolvimento de habilidades lingüísticas. Ajudou na percepção dos diferentes tons de voz nas leituras. Mas, infelizmente, o estudo não sugeriu uma política pública de música no ensino.
Agora, a experiência britânica é gritante e avisa: os professores que introduzirem música nas suas atividades devem estar preparados para receber impactos surpreendentes nos anos seguintes.
 


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