Bob Dylan

Reginaldo Villazón

Quinta-feira (13 outubro 2016), na capital Estocolmo, a secretária geral da Academia Sueca anunciou o nome de Bob Dylan (cantor e compositor norte-americano, hoje aos 75 anos) como vencedor do Prêmio Nobel de Literatura deste ano "por ter criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana". A surpresa experimentada pela platéia de jornalistas se espalhou mundo afora. Pudera, a figura do Bob Dylan munido de guitarra e gaita não faz lembrar um escritor de obras literárias.

Mas, além de cantor e compositor em dezenas de discos, ele publicou livros (cerca de 30), escreveu roteiros, atuou como ator, pintou quadros. Seus temas, sempre em referência à vida de forma responsável. Suas poesias, carregadas de versos desafiadores. Como na famosa canção "Blowing in the wind" (Soprando ao vento), de quando ele tinha 22 anos. "Quantas estradas precisa um homem andar, antes que possam chamá-lo de homem? Quantas balas de canhão precisam voar, antes de serem para sempre banidas?"

Com sua voz rouca, Bob Dylan transitou por alguns gêneros musicais. Mas marcou posição firme nas canções de protesto contra situações políticas e sociais, como guerra e racismo. Sua parceria com a politizada cantora Joan Baez foi profícua. Com ela, esteve presente na grande "Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade" (28 agosto 1963), liderada pelo pastor pacifista Martin Luther King Jr, que no ano seguinte ganhou o Prêmio Nobel da Paz e cinco anos depois morreu assassinado.

O mundo das artes costuma gerar pessoas brilhantes e independentes que se manifestam contra a ignorância e a maldade. Como o escritor russo Alexander Soljenítsin (1918 – 2008), que em seus livros revelou ao mundo os campos de trabalho forçado da União Soviética e mereceu o Prêmio Nobel de Literatura em 1970. Como o compositor brasileiro Geraldo Vandré, que na ditadura militar (1964 – 1985) escreveu e cantou "Pra não dizer que não falei de flores", um hino de resistência ao regime de exceção.

Músicas, poesias, ficções, pinturas possuem força de transformação social porque sacodem a consciência da população quando questionam as meias verdades e mentiras inteiras defendidas pelos hipócritas. Por isto, a rebeldia dos artistas sofre tentativas de censura. Estaríamos vivendo num mundo menos seguro, não fosse a revolução cultural que aconteceu no sentido oposto da política e da sociedade tradicionais. Hoje, vídeos criativos na Internet contribuem para evidenciar fragilidades políticas e sociais.

Nada mais fora do comum do que lidar com gênios. A Academia Sueca fez de tudo para se comunicar direta e oficialmente com o ganhador do prêmio, mas não teve sucesso. Passados cinco dias da anunciação, o site oficial do artista reconheceu discretamente o prêmio com a frase: "Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura". Se ele vai ou não comparecer à cerimônia de entrega do prêmio, pouco importa. O prêmio já é dele. Tudo pode ser perdoado ao homem que um dia escreveu: "Para viver fora da lei, você precisa ser honesto."

Comentários