Politicamente correto, por Célio Pezza*


 
Vivemos a era do ‘politicamente correto’. Não podemos mais falar livremente coisas que falávamos na nossa infância, sem nenhuma maldade ou preconceito. Lógico que existem exageros que devem ser evitados. Preconceitos aparecem em palavras ou em atitudes. Estes, sim, devem ser combatidos e banidos de nosso dia a dia. Não adianta uma pessoa se dirigir a um negro como “afro descendente” e não querer sentar ao seu lado, por puro preconceito.
Imaginem um diálogo entre uma pessoa que vá pedir uma informação em uma livraria e seu funcionário:
- Bom dia. A senhora é funcionária desta livraria?
- A mulher olhando feio: Não. Sou colaboradora.
- Desculpe. Vocês têm livros sobre lendas do folclore brasileiro? Tipo do Saci, aquele negrinho com uma perna só que fuma cachimbo e usa gorro vermelho?
- Senhor, tenha modos. Hoje dizemos que o Saci é um afrodescendente portador de necessidades especiais.
- Desculpe novamente. É que na minha época as lendas eram diferentes. Tinha a do Saci, a da Velha Pisadeira (*), do Negrinho do Pastoreio, etc.
- Senhor. Se continuar falando dessa forma, chamarei o gerente, e vamos exigir que saia dessa livraria. O senhor não sabe que não se diz velha e sim uma senhora da melhor idade? Quanto ao Negrinho do Pastoreio, acho que o senhor está me provocando. Já lhe falei sobre o Saci.
- Desculpe. É que são os nomes dos personagens. Não tem nada a ver com a sua cor...
- Socorro! Estou sendo insultada! Exijo que este senhor sem educação seja levado a uma delegacia.
- Senhora, desculpe. Não aguento mais. Vou embora antes que aqui aconteça um feminicídio.
Como disse certa vez o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé: ‘Logo criarão uma lei que proibirá as mulheres de serem bonitas, em nome da autoestima das feias’. 
(*) Velha Pisadeira: é uma velha (desculpem, senhora da melhor idade) de chinelos que surge no meio da noite e pisa na barriga das pessoas causando falta de ar, quando elas comem demais e vão dormir com o estômago cheio.
*Célio Pezza é colunista, escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Tumba do Apóstolo. Saiba mais em www.facebook.com/celio.pezza

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Sobre Célio PezzaO escritor Célio Pezza, 64 anos, iniciou a carreira de escritor em 1999, movido pela vontade de levar as pessoas a repensarem o modelo de vida atual dos seres humanos. Seus livros misturam realidade e suspense, e Celio já tem 8 livros publicados, inclusive no exterior, e é colunista colaborador de dezenas de jornais e revistas por todo o país. Saiba mais em: www.facebook.com/celio.pezza

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