Custa tentar? por José Renato Nalini


A falta d’água é constatável em quase todos os lugares. Não é apenas São Paulo que enfrenta uma crise séria e que longe está de terminar. Outras unidades da Federação encontram-se na mesma situação. O que fazer?
A receita seria reflorestar ao menos parte das matas derrubadas. Se isso acontecesse em relação às represas da Grande São Paulo, a capacidade de armazenamento nos reservatórios cresceria até 50%. É o que indicam os estudos divulgados pela TNC - The Nature Conservancy, organização não governamental que avalia um custo de R$ 200 milhões para concretizar essa proposta.
Parece muito? Não, se calculada a redução do custo de tratamento da água, que se tornaria muito mais limpa do que a de hoje. É óbvio que a resposta não seria imediata. Muito mais rápido foi destruir o verde que cercava os rios, hoje convertidos em verdadeiro condutor de sujeira a atravessar tantas cidades. O replantio requer paciência, investimento, esforço. Mas seria algo duradouro, conforme se constata em várias partes do mundo. Como foi que Londres salvou o Tâmisa, Paris preserva o Sena e até o Danúbio volta a ser azul, como fruto da conscientização de quem sabe que sem água não se pode viver?
A pesquisa da ONG internacional incidiu sobre cem cidades do Planeta. São Paulo e Recife são as metrópoles brasileiras que mais se beneficiariam dessa estratégia de recuperação das matas ciliares. As outras são Medellin, na Colômbia, Harbin, na China e Mumbai, na Índia.
São Paulo poderia começar e dar o exemplo. O maior centro de cérebros, de Universidades, de Hospitais, de grandes empresas, não pode continuar impassível diante da catástrofe que se avizinha. O "progresso" asfaltou as ruas, enterrou os cursos d’água e poluiu os rios, que há algumas décadas ainda eram fontes de vida e riqueza. Não é impossível enfrentar essa ameaça, mas perfeitamente viável conclamar toda a lucidez a entrar de maneira corajosa numa cruzada de restauração da natureza. Não se indignar ante a maldade é se acumpliciar com os maus. Não custa tentar a reversão de expectativas e a mostrar às crianças que ainda nos restou um pouco de juízo
*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo

Comentários