Willy Brandt

Reginaldo Villazón

Em dezembro de 2013, o mundo assistiu as homenagens ao estadista sul-africano Nelson Mandela (1918 – 2013), que faleceu no dia 05, aos 95 anos de idade, em casa, rodeado dos familiares. Dias depois (no dia 18), com a mesma intensidade emocional, os europeus comemoraram o centenário de nascimento do estadista alemão Willy Brandt (1913 – 1992). Ambos foram grandes líderes e se tornaram grandes estadistas no século XX. O mundo sente, neste início do século XXI, o quanto esse tipo especial de gente está fazendo falta.

Nelson Mandela nasceu negro num país dominado por uma minoria branca. Formou-se advogado e ingressou no CNA (Congresso Nacional Africano), o partido de oposição ao governo da minoria branca. Atuando como advogado e líder entre os oposicionistas, sua luta em favor da liberdade e da democracia incomodou o governo. Preso várias vezes, continuou semeando ideais. Condenado à prisão perpétua, não se abateu e conquistou apoio internacional. Libertado, elegeu-se presidente da república e conduziu a modernização política do país.

Herbert Ernst Karl Frahm nasceu de mãe de origem judia, na Alemanha. Na juventude, para não ser preso pelos nazistas, mudou seu nome para Willy Brandt e fugiu para a Noruega, depois para a Suécia. Após a derrota do nazismo na Guerra, voltou à Alemanha e fez carreira política no Partido Social Democrata. Era prefeito da capital Berlim (lado ocidental, capitalista), quando a outra administração (lado oriental, comunista) ergueu o Muro de Berlim, em 1961, isolando as duas partes da cidade e causando grande tensão social e política.

Willy Brandt foi Ministro das Relações Exteriores, Vice-Chanceler e Chanceler (estes dois cargos equivalentes a Vice-Presidente e Presidente). Sua liderança política foi importante para a Alemanha no pós-guerra. Ele teceu laços de entendimento na Alemanha dividida em Ocidental e Oriental. Seus esforços foram compensados com a reunificação, acontecida em 1989 com a queda do Muro de Berlim. Além disso, trabalhou para desfazer os ressentimentos da Alemanha com os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial.

Em 1970, na condição de Chanceler da Alemanha, Willy Brandt visitou a Polônia numa missão diplomática. A Polônia fora brutalmente ocupada pelas tropas alemãs na Guerra. Na capital, Varsóvia, os nazistas haviam isolado os judeus num gueto e deportado milhares deles para serem mortos em campos de concentração. Na cerimônia oficial, ao depositar uma coroa de flores no Memorial dos Heróis do Gueto, Willy Brandt se pôs de joelhos. A multidão perplexa viu um chefe-de-estado pacífico, mas suportando os erros passados da sua nação.

Mais tarde, ele foi membro do Parlamento Europeu. Presidiu uma comissão internacional que produziu um documento de grande repercussão, o "Relatório Brandt", que pedia novas atitudes dos países desenvolvidos em prol dos países menos desenvolvidos. Com tantos méritos, Willy Brandt recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1971. Da mesma forma, Nelson Mandela recebeu o seu Prêmio Nobel da Paz em 1993.

Hoje, os cientistas sociais tentam saber por que não surgem novos grandes líderes. Em verdade, a ausência de líderes acontece em todos os níveis das atividades políticas e administrativas do mundo. No Brasil, há bons cidadãos para serem conduzidos. Mas não há líderes para conduzi-los. Falta de dinheiro e de leis não são desculpas para explicar a imobilidade. Talvez, o problema comece nas intrigas partidárias, movidas pela fome de poder e pela mediocridade das idéias. Neste ano de eleições, os discursos vazios vão se repetir.

Comentários