Aline Alves, Thabitta de Souza e Marçal Rizzo
Marçal Rogério Rizzo: Economista e Professor do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas (MS).- marcalprofessor@yahoo.com.br
Antigamente, quando se perguntava a uma criança ou a um pré-adolescente sobre o que desejava ser quando crescesse, ouvia-se como resposta, quase invariavelmente, que o sonho almejado era ser professor, bombeiro, médico, engenheiro ou advogado. Os pais "estufavam", orgulhosos diante das nobres aspirações dos filhos. Aquele que dissesse que desejava ser jogador de futebol, era, de pronto, rotulado de moleque ou vagabundo.
Fim do mundo mesmo seria uma menina dizer que seu sonho era ser "chacrete", similar das "Garotas do Faustão" ou "Paniquetes" de hoje. Era certo que tal menina tomaria "uma pisa" do pai ou da mãe e, em casos extremos, seria colocada de joelhos sobre grãos de milho, como castigo, até se arrepender do "impropério" que cogitara. "Onde já se viu criar filha para aparecer em televisão com a bunda de fora? Mas nem morto". Esse tipo de aspiração, num tempo como aquele, era de matar quaisquer pais de desgosto, porém já vai longe o tempo em que os pais se indignavam mediante a exposição da moral e da honra familiar. De uns tempos pra cá, talvez duas décadas, pra ser mais preciso, a coisa degringolou de vez.
A partir do surgimento dos programas de auditório, com suas rebolativas garotas de palco, observa-se, cada vez mais, a banalização do nu e da comercialização da própria imagem. Tudo sem censura em horário nobre. É a busca da fama a qualquer preço. Imagine, então, de que não são capazes as que já são donas de seus próprios narizes. De mulher melancia, melão, jaca, a quitanda toda.
Destaca-se que o direito a imagem – protegido constitucionalmente desde a Constituição Imperial, sendo, entretanto, elucidado de forma expressa e garantido de forma efetiva a partir da Carta Magna de 1988 – qualifica-se como direito de personalidade, por proteger o interesse que tem a pessoa de opor-se à divulgação da imagem, em circunstâncias concernentes à sua vida privada.
O crescimento tecnológico propiciou o desenvolvimento dos meios de comunicação e ainda a facilidade na captação de imagem, bem como sua reprodução. Por conseguinte, impulsionou-se contingente maior de pessoas à busca do famoso "minuto de fama". Com a rapidez proporcionada pelas redes sociais, o mundo está completamente integrado: notícias e imagens difundem-se em questões de segundos, e a tão sonhada fama está apenas a certo número de visualizações ou "curtidas" no Facebook, bem como no aplicativo Instagram.
Desde vídeos no Youtube com conteúdo de nudez, fotos postadas no Instagram, hospedagem em hotel em que time de jogador de futebol famoso (Quem diria...) se hospeda, até pagar para ser protagonista de flagrante de cena de nu forjado por "descobridores de subcelebridades", este é um novíssimo mercado em que o produto principal nada mais é que a própria imagem das jovens. Hoje, são meras donas de sarados corpões esbanjando sensualidade; amanhã, com um pouco de "sorte" e um bom e engenhoso "produtor de subcelebridades", a mesma figura pode até se tornar a nova "Massafera" ou "Sabrina Sato" da vez.
Zygmun Bauman, sociólogo polonês, analisa, em seu livro Vida para consumo, a necessidade atual de não só consumir, mas também tornar-se mercadoria. Tal situação pode ser observada no mercado das subcelebridades, em que o importante é a venda da própria imagem ou do próprio corpo, em troca da fama e de alguns milhares de reais. Bauman disserta acerca desse desejo de fama: "Nesses sonhos, ‘ser famoso’ não significa nada mais (mas também nada menos!) do que aparecer nas primeiras páginas de milhares de revistas e em milhões de telas, ser visto, notado e comentado e, portanto, presumivelmente desejado por muitos – assim como sapatos, saias ou acessórios exibidos nas revistas luxuosas e nas telas de TV (...) Há mais coisas na vida além da mídia, mas não muito... Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte".
Assim, tentando fugir da morte do anonimato, as aspirantes ao status de celebridades recorrem a produtores que recriarão suas imagens, forjando situações (e até mesmo escândalos) que atrairão o olhar do público. O mercado, altamente rentável, é procurado por aqueles que buscam uma ascensão social rápida e fácil. A venda da própria imagem nunca se mostrou tão lucrativa.
Inúmeros sociólogos e filósofos dedicaram-se à casuística mencionada. Guy Debord, estudioso francês, já em 1967 criticava a influência do neoliberalismo capitalista no comportamento social, afirmando que o atual sistema econômico levou à formação da "Sociedade do Espetáculo", em que "a mercadoria chega à ocupação total da vida social (...)" e "a produção econômica moderna estende a sua ditadura extensiva e intensivamente". Essa ditadura atualmente é ratificada por meio da espetacularização das subcelebridades e na constante e excessiva necessidade das aspirantes à fama em tornar-se mercadoria, em fazer que a sua imagem venda – e renda alguns milhares de reais.
Aline Alves de Oliveira: Acadêmica do Curso de Direito da UFG – Câmpus de Goiânia (GO)- alinealveso@gmail.com
Thabitta de Souza Rocha: Acadêmica do Curso de Direito da UFG – Câmpus de Goiânia (GO).- thabitta.rocha@hotmail.com
Marçal Rogério Rizzo: Economista e Professor do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas (MS).- marcalprofessor@yahoo.com.br
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