Muito lixo:até quando? o que fazer?

Por Jorge Luiz Fronho de Sousa e Benedito Gonçalves da Silva

Mais um ano e, com ele, as chuvas sempre presentes. Sacos de lixos boiando nos rios, córregos, piscinões, além das doenças consequentes de tais situações. A população fica dependente de todos os estragos causados, prejuízos econômicos e perigos que afetam áreas, geralmente ocupadas por famílias de baixa renda em busca da sobrevivência. É fato que, com a repetição do caos, temos que pensar de que forma estamos tratando o lixo que produzimos e qual providência podemos tomar para solucionar ou minimizar os problemas ocasionados.

Naturalmente, lidar com a dinâmica da geração de resíduos em médias e grandes cidades não é nada fácil. Apesar da aquisição de equipamentos, tecnologia e pessoal capacitado, a sistemática da operação muda em função do tráfego, horário de rush, área de pedestre, entre outros. Com isso, há necessidade de alterações na forma de execução, revendo até mesmo como acondicionar, tratar e destinar os resíduos sólidos.

Com certeza, a implantação de uma coleta seletiva mais eficiente e de maior abrangência territorial faz-se necessária, possibilitando que se faça a reciclagem de materiais diversos, o que promove benefícios econômicos e sociais. Isso deverá ser feito com procedimentos de acondicionamento e recolhimento adequados sob a gestão pública. É comum, hoje, a ingerência de coletores particulares de resíduos recicláveis que, devido a condições sociais adversas, deixam grandes volumes nas vias e logradouros públicos. Esses, por não estarem acondicionados e não serem recolhidos com regularidade, prejudicam o bem-estar da população.

O levantamento de informações sobre horários e frequências da coleta é fundamental para o bom desempenho do sistema, mas somente isso não basta. Poder contar com os munícipes, respeitando as regras estabelecidas, para o melhor funcionamento do sistema torna-se imprescindível. Devido aos elevados custos que envolvem o projeto, nada mais natural que existam regras para o melhor aproveitamento dos recursos e uma efetiva fiscalização, além de evitar as taxas elevadas que recaem sobre o contribuinte. São necessárias ainda, avaliações constantes sobre os processos técnicos e educativos para se buscar melhorias. Há muito também que se fazer o sentido de educar e conscientizar ambientalmente a população para o problema.

O aumento da população, com a expansão das cidades e indústrias, o aumento de renda das populações de países em desenvolvimento e, naturalmente, do seu poder de consumo, fez com que o lixo se se torne um dos grandes problemas atuais. A maioria dos lixões e aterros sanitários está saturada ou muito próxima do seu limite. Estima-se que a cada 24 horas, a humanidade joga no lixo mais de 3,5 milhões de toneladas de resíduos. Isso representa pelo menos 40 toneladas por segundo, um aumento de dez vezes em relação ao que gerávamos há cem anos. Mantido o ritmo atual de descarte, esse número provavelmente irá dobrar até 2025 e em 2100 podemos atingir o "pico" do lixo, com uma geração de 11 milhões de toneladas diárias, o triplo da taxa de hoje. Vai faltar lugar para armazenar tanta sujeira.

O acúmulo do lixo e seu contato com as condições climáticas acabam produzindo o chorume, um líquido escuro e altamente tóxico que polui a água do lençol freático, e o metano, um gás ainda mais prejudicial à atmosfera que o próprio dióxido de carbono, considerado o grande vilão do efeito estufa. Além disso, representa um grande risco para a saúde humana, já que propicia a manifestação de várias doenças como cólera, cisticercose, disenteria e giardíase. Proliferação de insetos e roedores, baratas, mosquitos, ratos, que são vetores comuns de doenças como febre amarela, dengue e leptospirose.

Identificar os problemas e levantar os números das consequências causadas é fácil. Mas o que é possível fazer para não deixarmos que a situação seja contínua e o país seja em alguns anos uma lata de lixo? A reciclagem é uma solução comum e viável para resolver o problema do lixo. A maioria dos materiais despejados em lixões pode ser reaproveitada. A técnica, além de diminuir a quantidade de lixos nas cidades, também tem vantagens sociais e econômicas, como geração de empregos e criação de indústrias de reciclagem.

Embora muito esteja se fazendo nesta área em âmbito mundial, ainda são poucos os materiais aproveitados no Brasil. O lixo também pode ser reaproveitado para se converter em energia. E a energia, hoje tão cara e sob a ameaça de escassez num futuro, poderia ter uma fonte de abastecimento inesgotável – e ecologicamente correta.

Nos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão, gerar energia a partir do lixo é uma realidade desde os anos 1980. Se o Brasil transformasse seu lixo em energia, conseguiria implantar cerca de 750 usinas, que forneceriam energia para aproximadamente 22,5 milhões de habitantes – cada 200 toneladas por dia de lixo doméstico orgânico permitiriam a implantação de uma Usina Termelétrica. A energia via lixo pode iluminar casas, ativar indústrias e mover carros.

Adaptado todo o processo, isso também se refletiria positivamente na economia, não apenas no corte de gastos que esta fonte de energia traria, mas com os recursos que captaria. O aproveitamento de resíduos é considerado uma alternativa viável para substituir combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), sendo uma boa opção para a redução da emissão de gases poluentes que provocam o efeito estufa.

Jorge Luiz Fronho de Sousa: Acadêmico do Curso de Adminstração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. jorgefronho@yahoo.com.br

Benedito Gonçalves da Silva: Contador e Professor da UFMS – Campus de Três Lagoas. b.g.silva@uol.com.br

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