Prezado Senhor Roberto Carvalho

Diretor da Folha Noroeste
 
O livre direito de expressão nos permite defender nossos pontos de vista e, na maior parte dos casos, nossos interesses. Entretanto, muitos acabam confundindo este direito. É o caso do senhor Tiago Abra, no artigo O drama da sacolinha, publicado na edição da Folha de 28 de janeiro. Ao defender os seus interesses, o articulista acaba cometendo uma grande indelicadeza, principalmente quando afirma que a revolta demonstrada pelos consumidores em comentários nas redes sociais foi “causada pelo comodismo, pelo fato de você poder ir ao supermercado, pegar quantas sacolas quiser, sem se preocupar com o que acontecerá depois”. É verdade que em muitos países, essa proibição já existe há vários anos, mas o articulista, como quando contou sua experiência em Londres, esqueceu-se de dizer que no Primeiro Mundo os aterros sanitários são simplesmente proibidos, pois que são eles (e não as sacolinhas) que degradam o meio ambiente.
E, se sairão de cena as sacolas plásticas, entrarão as biodegradáveis, que também geram impactos ambientais, visto que toneladas de biodegradáveis degradam hoje o meio ambiente. Portanto, a substituição das ditas cujas sacolas plásticas pelas outras, vendidas nos supermercados, pouco ou quase nada contribuirá com a questão ambiental. Com relação às caixas de papelão e sacolas reutilizáveis, ninguém se lembrou de avisar que estudo realizado por uma empresa especializada em higiene ambiental, apontou que as caixas de papelão usadas e as sacolas de pano, trazidas de casa pelo consumidor, possuem alto grau de contaminação podendo prejudicar a saúde da população. A análise comprovou que, em relação às sacolas plásticas, ambas as opções apresentam maior carga microbiana – as caixas de papelão cerca de oito vezes mais para bactérias e 12 vezes mais para fungos, e as sacolas de pano possuem risco quatro vezes superior para bactérias e cinco vezes para fungos.
Por último, os governos apóiam a iniciativa dos supermercados porque isso os exime da responsabilidade de dar ao lixo um destino adequado.  Cadê a reciclagem ou a usinagem do lixo, cujo produto final deveria ser transformado em energia, em fertilizantes, em matéria prima reciclada? Nisso não se fala, não é? Como diz o próprio Tiago Abra no final de seu artigo, “é preciso parar de olhar somente para o próprio umbigo e começar a pensar no bem coletivo”. Que voltem as sacolas gratuitas e que se implantem usinas recicladoras do lixo urbano. Aí sim, estaremos fazendo algo efetivo pelo meio ambiente e não tapando câncer com band-aid.
 Orlando Ribeiro - orlando.leitor@gmail.com

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