O DESRESPEITO AO CIDADÃO BRASILEIRO

No dia 28 de outubro de 2011 minha família e eu, e outras centenas de brasileiros, como certamente ocorre todos os dias, fomos submetidos a serie de humilhações inadmissíveis sob qualquer pretexto que se queira utilizar, ao pretender obter visto de entrada nos Estados Unidos da América .
A coisa começa quando você decide viajar àquele País e resolve agendar o procedimento. Pela Internet, você reserva a data com três meses de antecedência no consulado em São Paulo. Preenche os formulários que, dentre outras perguntas sobre sua vida "criminal", inclui : você já foi terrorista?; você já utilizou bomba? Você já participou de atos de mortes e assassinatos políticos? Você já participou de recrutamento de crianças como soldados? Já foi usuário de drogas ou viciado?
Deve recolher no CytiBank (exclusivamente) a taxa de 140 dolares que, quando fui fazê-lo, a taxa de conversão foi de 1,90, quando o valor do dólar comercial era de 1,75. (Confesso que não entendo porque nunca consigo a taxa de cambio publicada pelo Banco Central). Deve ainda pagar 38 reais por pessoa para marcar a entrevista. Se for a mesma família, até 5 pessoas, tem o extremo beneficio de pagar uma única taxa se forem atendidas no mesmo dia e hora.
Enfim chega o dia em que o candidato terá o privilegio de ser recebido no território americano localizado na Chácara Santo Antônio em São Paulo.
Começa que o postulante tem que achar estacionamento que permita levar a chave do veículo, uma vez que deve deixar todos os seus pertences, com telefone celular, no veículo - não pode entrar no consulado com este equipamento. Você será disputado por manobristas que invadem a rua e quase te atropelam para sequestrá-lo. Sem contar que as ruas sem saída do bairro tornaram-se "estacionamentos privados". O cidadão tem certeza de estar sendo extorquido pelos manobristas, impunemente. Não há policia e, menos ainda, fiscalização.
Ao chegar no local, apesar de horário agendado 3 meses antes, uma longa fila demarcada com sistema de labirinto te aguarda. Dois quintos dela são protegidos por uma cobertura plástica e os outros três quintos expostos ao sol tropical. Isto se não tiver chuva. Se houver, pode refrescar-se. Não será cobrada taxa extra. Antes, a segurança já te fez abrir a bolsa e mostrar que não carrega bomba. Isto é fácil de entender.
Para adentrar ao consulado após esta introdução de "via crucis", há uma maquina de Raio-X , semelhante a dos aeroportos, e revista com detector de metais. Parabéns, você foi admitido ao coração do consulado. Pega outra fila de 15 minutos para conseguir uma senha que lhe dará direito de ter uma longa espera até ser chamado para deixar gravadas suas impressões digitais e receber um envelope de SEDEX. Aproximadamente cem números havia na nossa frente.
Você pode aguardar em pé dentro de um galpão amontoado de gente, sem bancos , sem cadeiras, com teto de telha de cimento baixo, e centenas de pessoas, tomando o cuidado de olhar para um painel que mostra a sequência de números. Quando aparece o seu, você se dirige para a frente do guichê indicado e espera a ordem de aproximar-se. Uma funcionária brasileira te atende separada por vidro e fala com microfone, a exemplo das cadeias de filmes americanos. Registre-se que os brasileiros recrutados são adequadamente treinados para nos tratar a moda dos americanos. E eles demonstram que aprenderam com louvor: são arrogantes, sem paciência, grosseiros, e mal educados. Pensam que por usar expressões como, por favor e gentileza, demonstram respeito. Muito ao contrário.
Nova fila te aguarda. Esta é mais longa. Não há alternativa. Tem que ficar em pé e novamente um sistema de labirinto irá te apresentar para a tão aguardada entrevista. Vocâ estará imaginando ser recebido numa mesa com cadeiras confortáveis, ar condicionado, um copo com água? Não! Outro guichê semelhante ao das digitais, agora com uma mal educada funcionaria americana, com tolerância zero e arrogância cem, demonstra de que nada valeu as informações que você perdeu tempo escrevendo no preenchimento do formulário e repete perguntas obvias: qual sua profissão, onde cada filho estuda, se a universidade é publica ou privada, o que você irá fazer nos Estados Unidos, renda mensal da família. Todas já contidas no tal formulário. Imagina, então, que acabou o caminho do calvário? Dirige-se para a saída e encontra outra fila, longa, no mesmo local da entrada, sob o sol tropical, apenas para entregar o envelope do SEDEX preenchido junto com o cartão de endereço postal e pagar a taxa para que os passaportes e demais papeis sejam entregues em sua casa. Isto, se o correio não estiver em greve, será cumprido com segurança e sem sofrimento. Para ajudar, no meu caso, quando já estava chegando ao guichê e faltava somente um quinto de trajeto a ser percorrido, um funcionário com sérias limitações intelectuais, de quarto escalão, a quem foi dado "puder", resolve organizar a fila e coloca a nossa atrás da que estava começando. Você não entendeu como isto foi possível? Pois eu te digo: ninguém entendeu. Mas não teve como reverter. Ninguém mais tinha paciência e nem tolerância para ouvir argumentos. Nem mesmo os brasileiros que não entenderam a nossa revolta e se submeteram às ordens de seguir a fila.
Bem, esta epopéia durou 4 horas e meia. Cheguei ao consulado às 11h e saí as 16h35, tendo perdido o dia de trabalho, juntamente com meus filhos e minha esposa. Esgotado e revoltado com tanto desprezo ao povo brasileiro que não pode ser tratado com tamanho desrespeito, como se fossemos todos bandidos querendo entrar nos Estados Unidos para roubar, cometer atos terroristas, fazer fortuna ilicitamente. Todos entendem as normas de segurança. Somos sensíveis ao que ocorreu em 11 de setembro de 2001. Mas nada justifica a sensação de bovinos que nos assola quando colocados naquelas filas sem nenhum conforto e atenção. E quando desejamos nos alimentar somos obrigados a recorrer a única lanchonete que está disponível, pagando preços de "boate" por uma garrafinha de água ou salgadinhos. Não há para quem reclamar e não adianta chorar. É ali mesmo que se morre.
Nos dias de hoje, com o acesso irrestrito a informática, onde qualquer informação sobre as pessoas é obtida instantaneamente, em que documentos importantes são trocados via digital, não é admissível termos que nos submeter a todos estes constrangimentos para podermos adentrar àquele país. Vale dizer que lá estivemos por várias outras vezes sem que tivéssemos que atravessar este inferno de desrespeito. Queríamos apenas renovar o visto que tinha a validade espirada.
O povo brasileiro dócil, cordato, civilizado, não pode ser compelido a passar por estas agruras constrangedoras, a perder dia de trabalho e submeter-se a tanta falta de respeito. O povo americano não é o exemplificado no corpo funcional do consulado e seus procedimentos. O país é fabuloso, sua capacidade de criar e realizar é magistral, suas belezas bem cuidadas. E por isto tudo é que desejamos sempre voltar a visitá-lo. Mas não pode ser imposta tanta grosseria e tanto distrato com as pessoas que também levam riqueza e divisas para os irmãos ao norte do equador.
· Renato Françoso Filho, cidadão brasileiro

Comentários