Plano Estadual da Citricultura: todos podem ganhar com ele

* Por Edinho Silva
 Com a instalação da Frente Parlamentar da Citricultura, o poder público atua como força indutora e fomentadora na elaboração de agendas estratégicas para enfrentar a competição internacional e para o desenvolvimento de políticas geradoras de justiça social. Esse é um debate essencial ao crescimento de toda a cadeia da citricultura e representará ganhos para todos.* Deputado estadual, presidente do PT do estado de São Paulo e ex-prefeito de Araraquara (2001-2008)


Com o lançamento da Frente Parlamentar da Citricultura, nessa terça-feira, iniciamos um trabalho que, nos próximos meses, pretende debater a situação do setor, relacionar os problemas e propor soluções. Não será tarefa fácil, porém, pelo tamanho e importância da citricultura para o estado de São Paulo, não poderemos medir esforços para alcançarmos o objetivo.
A proposta principal é criar, no prazo máximo de dois anos, o Plano Estadual da Citricultura, algo que possa orientar o desenvolvimento sustentável do setor nas próximas décadas.
Hoje, uma série de fatores vem afetando a produtividade e minando a receita da cadeia produtiva. A falta de uma política de estocagem do suco exportado, por exemplo, impede que a indústria ofereça ao produtor uma remuneração mais uniforme pela laranja a cada safra. A variação contínua do valor da caixa desestimula investimentos no pomar e, muitas vezes, faz com que o produtor mude de cultura.
Uma conseqüência direta dessa falta de estimulo tem sido a substituição da laranja pela cana-de-açúcar. Só na região de Araraquara, uma das principais produtoras de citros do estado, o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) estima que a cana tenha ocupado de 10% a 15% da área plantada com laranja, isso apenas em 2010.
Como o custo de produção do hectare de cana gira entre R$ 6 mil e R$ 8 mil por ano, praticamente a metade do que gasta o citricultor para manter um hectare de laranja, cai o volume de dinheiro em circulação na economia da região. Para o Fundecitrus, é justamente pela baixa remuneração ante os elevados custos de produção que o citricultor está retirando seus pomares e arrendando a terra para as usinas, que hoje contam com demanda de mercado, do açúcar e etanol, estimulada e bastante aquecida, e preços no mercado internacional compensadores.
As entidades que representam os produtores temem pelo futuro dessa importante cadeia produtiva que, nos últimos 30 anos, perdeu cerca de 20 mil produtores e viu o volume de empregos oferecidos cair de 400 mil para 230 mil.
Somadas a essas circunstâncias, a citricultura padece também com as perdas constantes causadas por doenças como o greening e o cancro cítrico, que obrigam à erradicação das árvores doentes. A retirada das plantas é a única forma eficaz de impedir o avanço dessas doenças, mas representa, para os pequenos produtores, um prejuízo muitas vezes insuperável.
Os pesquisadores do setor também demonstram com números que nos últimos 5 anos o Brasil perdeu 6% do mercado internacional de suco de laranja. Queda que se não for revertida com a abertura de novos mercadores consumidores pode se tornar um problema estrutural para a cadeia produtiva.
Com o Plano Estadual da Citricultura poderemos propor a ampliação dos dispositivos de compensação para o citricultor que tiver seus laranjais afetados tanto pelo greening como pelo cancro cítrico, de forma a reduzir o impacto da erradicação das plantações sobre os custos de sua propriedade.
A Frente também vai tratar da relação do produtor e da indústria com os trabalhadores do setor, de forma a ampliar as conquistas, com melhoria das condições de trabalho e dos salários.
É fundamental que o Plano seja resultado de um esforço conjunto dos parlamentares e diversos setores que compõem a cadeia produtiva como trabalhadores assalariados rurais, produtores e representantes da indústria processadora de suco de laranja, além de prefeituras, órgãos do Governo do Estado e do Governo Federal, universidades, centros de pesquisa e demais entidades vinculadas à citricultura.
Devemos levar em conta a necessidade de investimentos em pesquisa e tecnologia, desde os necessários ao plantio da laranja até aqueles para o combate às doenças como o greening e o cancro cítrico e, englobando até a prevenção de problemas climáticos.

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