O PAC de Jales forma as dez primeiras turmas

Profª. Élida Maria Barison da Silva
Secretária Municipal de Educação

Prof. Dr. Domingos de Freitas Filho

Diretor da Proddados

Profª. Tamara Dienifer Peresi

Coordenadora Pedagógica-SME

Profª. Micheli Volpato Epaminondas

Coordenadora Pedagógica do
AC - Proddados

O Projeto de Alfabetização Cidadã de Jales - PAC, iniciado há pouco mais de um ano, começa colher os primeiros resultados. No dia 25 deste mês estarão se formando os primeiros alunos, num total de 10 classes com 150 alunos. Não foi uma tarefa fácil para ninguém. Para os alunos foi um verdadeiro ato de resistência à acomodação. Iniciar os estudos ou voltar a estudar não foi uma decisão fácil. Os mais velhos tem suas ocupações familiares, enfermidades e outros motivos para não se sentirem motivados a estudar. Alguns, uma vez iniciadas as aulas, não conseguiram resistir aos muitos fatores impeditivos e pararam de frequentar as salas de aula.

Cada aluno matriculado no PAC tem uma história de vida bastante diferenciada dos demais. As razões porque não estudaram ou porque pararam de estudar variam muito, tanto entre os mais velhos como entre os mais novos. Há histórias de família, histórias pessoais e outros fatores que comovem quando conversamos com cada aluno. Todos os que acabaram compondo esse contingente de excluídos do direito básico à educação tem uma história verídica e muito triste para contar. A falta de oportunidade quase sempre os assemelham entre si.
Quando a Prefeitura do município de Jales resolveu criar esse projeto, o fez pensando em resgatar esse direito negado a muitos cidadãos do nosso município. Segundo os dados do IBGE utilizados para o calculo de pessoas analfabetas de nosso município, esse número se compõe de várias centenas, milhares talvez. Neste ano em que se realiza o Censo 2010, deveremos ter novos e atualizados números sobre o perfil dessa população de homens e mulheres ainda não alfabetizados em cada município e no país. Os novos números, certamente, vão divergir bastante dos anteriores. Isso não só porque há projetos dessa natureza em muitos municípios, mas porque as políticas voltadas para esse segmento da população, tanto no nível estadual, como federal estão mais incisivas e efetivas.
O projeto de alfabetização de adultos de Jales está dando certo. Houve um planejamento adequado, houve a capacitação de professores na metodologia específica para a alfabetização de adultos, continua havendo um acompanhamento sistemático das atividades pedagógicas e administrativas por parte do poder público e da empresa Proddados que administra o projeto.
Devemos ressaltar, porém, que grandes desafios tem sido vencidos. Há alunos matriculados que desistem de estudar após iniciar as aulas e há também, em número muito maior, os que resistem em fazer parte do projeto, recusando a sua matrícula em uma das classes formadas em cada região da cidade.
A composição das classes é antecedida de planejamento e estudos de cada região para se iniciar a visita nas casas. Muitas tem sido as estratégias seguidas pelos pesquisadores da empresa que administra o projeto. Essas estratégias vão desde a consulta aos arquivos já prontos em outros órgãos do município, até visitas aleatórias realizadas de casa em casa, de bairro em bairro. Outras vezes são utilizados nomes e endereços fornecidos pelos alunos que já frequentam as salas do PAC.
Tudo que se disser sobre a recusa das pessoas em aceitar o convite para se cadastrarem no projeto ainda é pouco. As alegações vão desde desinteresse, idade avançada, falta de tempo, discordância do cônjuge, problemas de saúde, distância das salas etc. Isso , porém, não desanima os pesquisadores. Eles foram treinados para lidar com todas essas situações. Em alguns casos funciona a boa argumentação. Em outros funciona o exemplo de algum amigo ou vizinho que já está cursando o projeto.
Com a formatura dessas dez turmas no corrente mês, restam quatro turmas que iniciaram os seus estudos em agosto passado. Portanto, mais seis novas salas deverão ser formadas até o inicio do ano letivo de 2011. O projeto inicial tinha como objetivo trabalhar com cinco classes, porém, dadas as muitas desistências, a Secretaria Municipal de Educação em conjunto com a Proddados achou melhor ampliar o número de turmas. Portanto, com o mesmo orçamento de cinco classes, foram trabalhadas dez. É preciso esclarecer, no entanto, que das dez classes que se formam no próximo dia 25, três iniciaram os seus estudos em outubro do ano passado, e concluíram os estudos em data anterior. Alguns dos alunos dessas três classes continuaram os estudos frequentando as salas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), outros, por se encontrarem com a sua formação mais atrasada, continuaram frequentando os estudos em outras classes. Os demais pararam de estudar, não querendo nem frequentar a EJA nem irem para outras salas.
Um outro aspecto a ser pensado neste momento é a participação dos professores. Foram capacitados 40 docentes na metodologia de Paulo Freire. Essa metodologia é indicada e utilizada na maioria dos demais projetos de alfabetização de adultos em andamento no país. Ela atende à especificidade dessa clientela, já que a metodologia para a alfabetização infantil se mostra inadequada para esse público. Se a formação das turmas é cercada de tantas dificuldades, o trabalho da sala de aula não é nada fácil. Dos professores o projeto conta muito com o conhecimento e utilização dos métodos e procedimentos específicos, muita paciência, dedicação e idealismo. A qualidade do trabalho docente é decisivo para manter o alfabetizando interessado em continuar os estudos. É um trabalho cansativo, sem dúvida, mas gratificante, quando se dá conta de que aquela pessoa que não tinha qualquer domínio da escrita e da leitura começa a dar os primeiros passos. A sensação é de que um novo cidadão está nascendo. Assemelha-se um pouco com a maiêutica de Sócrates. Segundo o filósofo grego, cada vez que ensinava uma pessoa a pensar, o resultado da sua ação era como um parto. Ali nascia uma pessoa livre e independente. Ensinar uma pessoa a ler e escrever é não só devolver-lhe um direito negado, más é, acima de tudo, dar-lhe a possibilidade de fazer escolhas, de decidir, de melhor exercer a sua cidadania.
Com a apresentação desses primeiros resultados desse projeto, o poder público municipal e a empresa Proddados, que o administra esperam que a população, em especial os dirigentes das várias instituições e organizações que tenham em seus quadros pessoas ainda não alfabetizadas, procurem o projeto, se informem e motivem os seus colaboradores a se matricularem no PAC de Jales. Tanto Secretaria Municipal de Educação como a empresa Proddados podem oferecer todas as informações necessárias para que novos alunos venham a ampliar o número de salas já existentes.
O projeto de alfabetização de adultos (PAC) de Jales está dando certo. Apesar das dificuldades, das resistências e desistências, todos os esforços tem sido feitos pelas autoridades, pelas duas coordenadoras do projeto Profa. Micheli Volpato Epaminondas e Profa. Tâmara Dienifer Peresi, além das professoras responsáveis por cada uma das classes. Esperamos que o número de alunos alfabetizandos continue aumentando e um dia Jales possa ostentar o título de uma cidade cem por cento alfabetizada. Se o título de uma cidade com água e esgoto cem por cento tratados tanto ajuda a projetar a nossa cidade, certamente que o título de uma cidade com cem por cento da sua população alfabetizada o fará ainda mais. Alfabetizar uma pessoa é dar-lhe a possibilidade de livre expressão, o que constitui a matéria-prima do que chamamos liberdade.

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