Chora sim, meu filho

Adelvair David


Na voz embargada e diminuta do pequenino, mais parecendo um miado, encontramos reflexão, tentando desfazer o nó que se formou em nossa garganta diante do quadro que se apresentava.

– Tio, vão saber que eu chorei... Homem não chora, só quando apanha ou sente dor... Afirmava o menino tentando administrar o choro que estava preso no seu pequeno peito.
Ele não conseguia aproveitar a festinha das crianças da sua sala; retraído em um canto, observava tudo de longe como se não tivesse direito àqueles momentos de alegria.
A falta de atenção, a voz desconsiderada no lar, a falta da presença e apoio, entrega pequeninas almas ao seu pequeno e frágil mundo, que muitas vezes necessitam administrar sem ter maturidade para isto.
As reflexões que fizemos, levam-nos ao questionamento de qual deve ser o comportamento ideal, até onde o nosso proceder pode ou não colaborar com o crescimento e queda daqueles que jornadeiam conosco na experiência evolutiva; principalmente na constituição do lar. Deus não nos situou por acaso junto daqueles a quem fomos convidados a viver. Somos almas entrelaçadas, intrinsecamente ligadas por experiências e carências que necessitam evoluir juntas, para aprender e resolver necessidades criadas em um tempo que precede a este que estamos vivendo.
Cada um de nós necessita colaborar com muita responsabilidade com o progresso uns dos outros, principalmente com estes que formam o nosso ninho doméstico. Os pais, os irmãos e os familiares têm grande dever para cumprir junto aos seus, devendo envidar esforços, dedicação e amor, para que cada um possa sentir-se amparado e confortado nas suas necessidades e aprendizado.
É doloroso observar um coraçãozinho que procura à sua volta o aconchego do colo da mãe e a força dos braços do pai e apenas encontra indiferença e distância. Essas marcas permanecem no espírito por muito tempo, até que nós mesmos que as causamos possamos retirá-las com as doses de amor que negamos anteriormente.
Pudemos sentir a agonia, a tensão, a ansiedade com que ele tentava contornar o seu medo, sua insegurança, sua dor naquele momento, deixando-nos irremediavelmente angustiados, porque, apesar de podermos estar lhe fazendo companhia naquele instante, ofertando-lhe o carinho diminuto, carecia ele de amor de pai, de mãe, de irmão, de família; referenciais insubstituíveis e intransferíveis; atribuições e sentimentos devidos por aqueles em cujo círculo de afeto Deus o situou, a sua família.
Reflitamos na proposta de Jesus para a nossa felicidade: “ama o teu próximo como a ti mesmo”; assim poderemos construir através do amor que devemos compartilhar a lucidez e paz que necessitamos. Deus nos deixa entregue a um juiz que conhece as suas leis e nos conhece como ninguém. Questionados a esse respeito, por Allan Kardec: Onde está escrita a lei de Deus? Respondem os espíritos venerandos: na consciência. O amor regateado será a lacuna afetiva que experimentaremos no futuro à procura dos abandonados no caminho, para resgatá-los.
Chora sim meu filho, homem também chora, e chora de alegria, de dor, de felicidade, chora por muitos motivos, só não pode chorar vitimado pela indiferença...
ACOLHE O TEU PEQUENINO E OS TEUS MAIS PRÓXIMOS, AMANDO-OS, PARA QUE AFETUSO POSSAS DIVIDIR ESSE AMOR ENTRE TODOS OS SERES HUMANOS.

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