Suplentes e vices, candidatos parasitas

Dirceu Cardoso
O noticiário chama a atenção para a indecente farra dos suplentes. Candidatos ao Senado Federal apresentam, como suplentes, a própria mulher, o pai, o filho, o primo ou o financiador da campanha. Se eleitos, nos seus impedimentos, são substituídos por figuras na maioria das vezes despreparadas para o exercício da função, de quem o eleitorado jamais ouviu falar e que, a bem da verdade, não têm o menor compromisso com o povo ou com a Nação.

Ocorre a mesma coisa com os candidatos a vice nos cargos executivos. Como não são votados, não precisam ser conhecidos e nem ter afinidade com o público. São os verdadeiros ETs que, de repente, aparecem investidos como autoridades e – o pior – decidindo sobre os destinos de todos nós.
O suplente-parasita é uma invenção da Constituinte de 1946, que criou o suplente atrelado ao candidato, em respeito ao princípio partidário. Por certo, os constituintes de então pensaram apenas nos partidos e não nos efeitos colaterais ultimamente registrados, que desmerecem a figura do suplente embora, um dia, ele possa vir a ter a mesma importância do titular. A bem da verdade, os titulares, detentores do prestígio eleitoral e dos votos, deveriam ter mais consideração com o eleitorado e apresentar suplentes mais adequados.
O outro parasita eleitoral, encarnado pelo vice dos postos executivos, é uma criação do período autoritário. Antes do movimento de 64, o vice também tinha de enfrentar uma campanha e conseguir votos para se eleger. O exemplo mais conhecido é o Jango Goulart (PTB), que foi vice de Juscelino Kubistchek (PSD) e de Jânio Quadros (PTN-PDC-UDN-PR-PL), sucedendo o segundo por ocasião da sua renúncia.
No regime militar, tanto presidentes como governadores foram eleitos indiretamente – sem a participação do eleitorado – e com os vices atrelados. Os prefeitos, sim, eram eleitos diretamente pelo povo, e tinham seus vices igualmente colados. Isso levou muita gente inexpressiva, verdadeiros “postes”, a assumirem os governos de suas cidades, com todas as implicações que a falta de representatividade pode ocasionar. Veio a redemocratização e, em vez de acabar, o vice biônico foi confirmado também para governador e presidente da República.
Num regime efetivamente democrático, todos os que pretendem assumir postos eletivos têm de passar pela eleição. As figuras do suplente de senador e do vice dos cargos executivos são indevidas. Precisam acabar com a maior urgência possível. Pena que não há tempo para fazer isso já neste ano!
Espera-se que as mesmas forças mobilizadoras pelo vitorioso processo da ficha limpa, se empenhem para banir da vida nacional as figuras biônicas do suplente de senador e do vice não eleito. Quem quiser ocupar esses postos, tem de passar primeiro pelo crivo do eleitor. Do jeito que está é, pelo menos, ilegítimo, até imoral...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br

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