Ego lá em cima

Marta Fernandes de Sousa Costa
Aos domingos, quando estou em casa, preparo a comida dos cães. Desejando me dispensar do serviço, o marido argumenta ser desnecessário, cães podem passar um dia de jejum semanal; o funcionário em folga sugere a utilização da ração, deixada bem à mostra, caso mude de idéia. Não mudo. Após o café da manhã, lá vou eu preparar o panelão, com a “carne” imprópria para consumo humano, adquirida na casa veterinária, e quirera de arroz, trazida em saco de 50 kg. Por minha conta, acrescento uma colher rasa de sal. O funcionário não julga conveniente o sal, da mesma forma que tentou me convencer de que um pacote da tal “ração para consumo animal” seria suficiente. Ignoro as opiniões à volta e preparo a refeição à minha maneira, atenta ao prazer demonstrado pelos consumidores.

Como a panela é pesada, trago os pratos até a cozinha, para enchê-los. Um de cada vez, pois os pratos também são pesados, para não virarem com facilidade. Preciso me desvencilhar dos três filhotes, entreverando-se nas minhas pernas, enquanto caminho. São espertos, ágeis, traços bem definidos da raça fila. Frutos de uma “surpresa” preparada pela cadela supostamente bem resguardada no canil, em época perigosa, foram bem aceitos, superado o choque inicial. Contudo, são impedidos de entrar em casa, por não terem ainda os bons modos exigidos.
Cabe ao cão pastor alemão a tarefa de me acompanhar alegremente, enquanto vou e venho. Observa-me, orelhas levantadas, ar de expectativa, enquanto completo cada prato. A cadela rotweiller fica na dela, discreta como sempre, esperando a sua hora, deitada displicentemente à porta da garagem, na certeza de que não será esquecida.
Servidos todos os pratos, começo a levá-los, um por vez, agora mais que nunca em razão do peso, aos lugares estabelecidos. Sirvo primeiro aos filhotes, para me deixarem em paz. Depois o pastor alemão e a última é a rotweiller, verdadeira dama, até receber o seu quinhão. Dali em diante, cão nenhum chegue perto.
É um momento de prazer, quando começam a comer, apressadamente, rosnando uns para os outros, de vez em quando algum deixando o seu quinhão para experimentar o do outro, sendo enxotado antes que alcance o seu intento.
Meu ego vai às alturas, devidamente massageado, a auto-estima sobe a níveis extremos, quando os pratos se apresentam limpos, lambidos até o último grão de arroz. Dou-me este prazer, a cada domingo. Poderia perdê-lo? Sem esforço ou pensamentos profundos, à procura do cardápio adequado, consigo a aprovação incondicional do meu público.
Imagino que seja essa a sensação da cozinheira, quando os pratos voltam limpos da mesa e ela ainda recebe os elogios. Humanos são mais difíceis de agradar. Talvez porque cada um tenha o seu paladar. Enquanto o primeiro elogia o ponto certo do assado, o segundo deseja um pouco mais passado e ao terceiro apeteceria um pouco de pimenta. Difícil atender a todos os gostos.
O ato de cozinhar para os cães, além de me fazer enxergar o lado de quem se dá ao trabalho de ir à cozinha para me agradar, também me ensinou a lição da humildade: distraída com esta crônica, quase deixei queimar a panela da cachorrada; fui salva pelo leve cheirinho de queimado. Gentis, os cães rasparam os pratos, mesmo assim; decerto não querem perder a cozinheira, por falta de estímulo. Mas vou tomar mais cuidado, da próxima vez, preciso corresponder ao bom conceito conquistado.www.martasousacosta.com martafscosta@gmail.com

O Conciliador
*Pedro Callado
O programa de TV Fantástico vem realizando matérias sobre a conciliação como forma alternativa de solução dos litígios. Trata-se de um importante instrumento porque a solução é encontrada pelas próprias partes e não por um terceiro, como ocorre nos processos em que a solução é dada por decisão judicial.


No último dia 25/04/2010, o Fantástico tratou de um litígio envolvendo uma família e uma casa: de um lado um dos filhos e do outro a mãe e os demais filhos dela. A questão foi resolvida em duas audiências de conciliação realizada no prédio do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Uma líder comunitária atuou como conciliadora e, na segunda audiência, os envolvidos celebraram um acordo e o litígio foi encerrado. No final da audiência, o mais importante: as partes se cumprimentaram e se emocionaram, derramando lágrimas.
Eu me lembrei, então, de uma das visitas recebidas em Jales no então Juizado de Pequenas Causas, embrião do hoje Juizado Especial Cível e Criminal. A visita foi do Desembargador aposentado Kazuo Watanabe , eminente Prof. de Direito da USP e hoje um respeitado e conceituado Advogado brasileiro. O Prof. Kazuo Watanabe foi um dos autores do anteprojeto de Lei do Juizado de Pequenas Causas. Ele nos contou que no Japão os Juizados de Pequenas Causas não se limitam a resolver o litígio. Para a cultura japonesa mais importante que a solução da lide é a pacificação das pessoas nela envolvidas. Mesmo que um caso reclame várias audiências ou até mesmo um ou dois anos, a Justiça japonesa não homologa o acordo se não perceber que os litigantes estão realmente pacificados.
Naquela audiência de conciliação divulgada no Fantástico, a conciliadora não se limitou a resolver a lide. Ela foi mais longe. Ela conseguiu fazer com que mãe e filho e irmãos se abraçassem no final. Eis aí a verdadeira Justiça: pacificar as pessoas.
Aqui em Jales, sem contarmos com a estrutura existente na capital São Paulo, temos algo parecido. Os nossos conciliadores são os Advogados designados pela Subsecção local OAB/SP. Eles, compreendendo o munus público da Advocacia, se dispõem à conciliação. E, em mais de 70% dos casos, obtém sucesso. Tudo isso sem a participação direta do juiz. Na sala de audiências somente as partes, o Advogado-plantonista-conciliador e a escrevente, que também atua como conciliadora.
Esse sistema foi adotado em Jales, inicialmente, nas audiências de alimentos da 2ª Vara quando o Presidente da Subsecção da OAB local era o Dr. Alfredo José Salviano e mantido por seus sucessores Laurindo Novaes Neto, Lair Seixas Vieira, Carlos Alberto Expedito Brito Neto, Gabriel dos Santos Oliveira e Guilherme Soncini da Costa.
Depois, em 2007, com a instalação em Jales da Vara exclusiva do Juizado Especial Cível e Criminal, aquele método até então utilizado nas audiências de alimentos da 2ª Vara passou também a ser utilizado no Juizado Especial Cível e Criminal e mantido atualmente pelo Presidente da Subsecção da OAB de Jales, Dr. Aislan Queiroga Trigo. Em cada caso apresentado ao Juizado Especial Cível e Criminal de Jales sempre há uma audiência prévia de conciliação com a participação do Advogado plantonista designado pela OAB/SP. Somente quando não há acordo é que se designa uma segunda audiência para julgamento do caso.
Graças aos Advogados de Jales temos um sistema de conciliação no Juizado Especial Cível e Criminal parecido com aquele divulgado pelo Fantástico. *Pedro Manoel Callado Moraes é juiz de direito em Jales e professor de Direito Civil na Unicastelo em Fernandópolis 

CNBB em Brasília
D. Demétrio Valentini
Desta vez a assembléia anual da CNBB se realiza em Brasília. O costume era outro. Durante trinta anos, o mosteiro de Itaici acolheu as assembléias. A tal ponto que o bairro de Indaiatuba, que leva este nome, acabou ficando mais conhecido do que a própria cidade, cujo prefeito cada ano comparecia na abertura da assembléia, e pedia aos bispos que, por favor, se lembrassem que Itaici é um bairro de Indaiatuba, no Estado de S. Paulo.

Desta vez a realização da assembléia em Brasília é uma clara deferência da CNBB para honrar a nova capital do país, que acaba de completar 50 anos de sua inauguração. No mesmo sentido, o 16º. Congresso Eucarístico Nacional, cuja data se emenda à da assembléia, reforça a homenagem que a Igreja quer prestar a Brasília.
Na verdade, a intenção é mais ampla. Realizando neste ano na capital do país sua assembléia, e aí celebrando o Congresso Eucarístico, a Igreja quer ressaltar os muitos motivos que ela tem para sentir-se vinculada à história do país, com o qual se identifica de tantas maneiras.
Como de costume, a pauta da assembléia é sempre muito carregada. Os assuntos vão sendo recolhidos ao longo do ano. E precisam receber o tratamento de acordo com sua importância. Por isto, engana-se quem pensa que a assembléia vai se limitar ao cardápio proporcionado pelos assuntos na ordem do dia da imprensa. Se necessário, estes também podem receber o tratamento adequado, sobretudo na análise de conjunta que a assembléia sempre faz. Mas não é a imprensa que pauta a assembléia. Ela não vai sacrificar suas prioridades para tratar, por exemplo, do assunto da pedofilia.
Basta conferir seu tema central, e os temas que a assembléia caracteriza como prioritários, para dar-nos conta da intensidade dos trabalhos.
O tema central tem uma formulação que talvez dificulte a percepção de sua abrangência por parte de quem não está acostumado aos últimos acontecimentos e às recentes orientações pastorais da Igreja: “Discípulos e servidores da Palavra de Deus e a Missão da Igreja no mundo”.
Acontece que recentemente a Igreja fez um sínodo sobre a Palavra de Deus. A CNBB se mostra pronta a inserir as reflexões do Sínodo no cotidiano de sua vida. A referência aos “discípulos” e à “missão” , é para dizer que a CNBB continua mantendo as duas dimensões fundamentais que a Conferência de Aparecia expressou em forma de “discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Esta a intenção do tema central.
Como temas “prioritários”: as Comunidades Eclesiais de Base, os cem anos do movimento ecumênico, a avaliação das Diretrizes Pastorais, a questão agrária neste início de século 21.
Não podem faltar os diversos temas “estatutários”, como o relatório da Presidência e das diversas Comissões Episcopais, através das quais se estrutura o trabalho da CNBB. Será proposta uma declaração sobre a situação política que o país vive neste ano.
Portanto, um punhado de assuntos que exigem trabalho, que é realizado com sessões pela manhã, pela tarde e sempre que necessário à noite também.
Com isto, a CNBB acaba fazendo, sem o dizer explicitamente, um sério questionamento à burocracia estatal, especialmente ao Congresso Nacional. A CNBB se reúne dez dias por ano, e trata de tomar as decisões que se fazem necessárias. Depois, cada bispo retorna para suas dioceses e leva adiante sua missão, afinado com as orientações da assembléia. Não estaria aí uma boa sugestão para o Congresso Nacional? Por que não faz como a CNBB? Bastariam alguns períodos intensos de trabalho por ano em Brasília, onde seriam tomadas as decisões já amadurecidas junto ao povo nas bases. A continuidade dos trabalhos poderia ser garantida, como na CNBB, por uma Comissão Central que mantém expediente contínuo em Brasília, e se reúne mensalmente para municiar a continuidade dos trabalhos nas bases. Ainda mais com os recursos que hoje a informática nos oferece, os deputados e senadores poderiam se manter cotidianamente informados, com a vantagem de continuarem próximos à realidade do povo, o que sempre é salutar para quem precisa lidar com as esferas da burocracia.
Mesmo que não o diga explicitamente, a CNBB reunida em Brasília está clamando por uma radical e profunda reforma nas estruturas políticas, a começar por mudanças substanciais na organização do Congresso Nacional. Para que ele deixe de desperdiçar tantos recursos a serviço de sua inoperância escandalosa.

Transportes de crianças
*Altair Ramos Leon
A Resolução nº. 277/2008 do Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN determina que, a partir de 9 de junho, os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito fiscalizem o transporte de crianças menores de dez anos, uma vez que estas poderão ser transportadas no banco traseiro, usando individualmente cinto de segurança ou sistema de retenção equivalente.

Segundo a Resolução do CONTRAN, crianças de até um ano de idade deverão ser transportadas no equipamento denominado “bebê conforto ou conversível”, crianças com idade entre um e quatro anos em “cadeirinha” e de quatro a sete anos e seis meses em “assento de elevação”, este também conhecido por “booster”. Já as crianças com idade superior a sete anos e meio e inferior a dez anos deverão ser transportados no banco traseiro e utilizando o cinto de segurança.
Na hipótese da quantidade de crianças com idade inferior a dez anos exceder a capacidade de lotação do banco traseiro, excepcionalmente, será admitido o transporte daquela de maior estatura no banco dianteiro, usando cinto de segurança ou dispositivo de retenção. Nos veículos que possuem somente o banco dianteiro, o transporte de crianças com até dez anos poderá ser realizado nesse banco, sempre com o uso de cinto de segurança ou equipamento de retenção e observados outros requisitos, como nos veículos dotados de “airbag”.
Os equipamentos de retenção devem possuir selo de certificação do INMETRO, desde de abril de 2009, para a venda nas lojas, a fim de demonstrar que os mesmos atendem as normas de segurança e qualidade. Essa exigência vale tanto para os produtos nacionais quanto para os importados. Agora, a falta do selo não constitui infração de trânsito.
O uso dos equipamentos de retenção não será exigido, no caso de transporte de crianças, nos veículos com peso bruto total superior a 3,5 toneladas, coletivos, táxis e escolares.
O objetivo dessas medidas é estabelecer condições seguras para o transporte de crianças e, em casos de acidente de trânsito ou de desaceleração repentina do veículo, limitar o deslocamento do corpo da criança. No Brasil, todos os anos, muitas crianças são vítimas de acidentes de trânsito, quando transportadas de forma inadequada.
Lugar seguro, portanto, para o transporte de crianças é o banco traseiro, com o uso de cinto de segurança ou equipamento de retenção adequado.
Em caso de infração, o valor da multa será de R$ 191,54, sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação e retenção do veículo até que a irregularidade seja sanada. A Polícia Civil/93ª CIRETRAN está à disposição para prestar outras informações, na Rua Dez, nº. 2240, Centro. *Altair Ramos Leon é Delegado de Polícia Diretor da 93ª CIRETRAN e presidente do Conselho Municipal de Trânsito de Jales.

Amizade
*Monsenhor Jonas Abib
Ser amigo é o segredo da vida e da vitória...

“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; o ouro e a prata não merecem serem postos em paralelo com a sinceridade da sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor achará esse amigo. Quem teme ao Senhor terá uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante.” (Eclo 6, 14-17).
Amigo não é apenas um conhecido, colega, companheiro. Não. Amigo é amigo. Se eu quisesse definir amigo e amizade teria de encontrar as palavras certas e o conceito exato, porque amigo não é uma coisa qualquer. É por isso que a Palavra de Deus nos diz que “quem encontrou um amigo encontrou um tesouro”.
Um amigo pode nos transformar. E por que nos transforma? Porque antes de tudo o amigo nos ama como somos.
O amigo consegue nos corrigir e muitas vezes só o amigo é capaz de nos corrigir. O que pai não consegue, o que mãe não consegue, um amigo consegue fazer. Ele atinge o coração. Ele, e muitas vezes só ele, tem linha direta com o nosso coração. Ele chega lá, naquele lugar aonde ninguém consegue chegar.
E por que ele consegue chegar lá? Repito: porque o amigo nos ama do jeito que somos. É por isso que ele consegue nos transformar.
O amigo é capaz de dizer as coisas como elas são. Ele consegue nos dizer as verdades que não quereríamos ouvir, mas como o amigo é amigo, acabamos ouvindo. Muitas vezes a gente se chateia, se afasta, fica sem se comunicar, mas os dias passam e a gente volta atrás e entende, acolhe, se dobra e tudo muda.
Às vezes a gente briga, revolta-se, mas porque amigo é amigo, a gente não consegue ficar longe... A amizade é mais forte que a briga e é bom que seja assim! Muitas vezes só a amizade é capaz de nos dobrar. Ter amigos é essencial. Ser amigo é o segredo da vida e da vitória.
E por que tudo isso? Porque na amizade há amor. Amor puro. Amor fraternal. *Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova e presidente da Fundação João Paulo II. É autor de 48 livros, milhares de palestras em áudio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. http://www.padrejonas.com/

PALAVRAS DE EMMANUEL
Pergunta – Como entender a obsessão? É prova inevitável, ou acidente que se possa afastar facilmente, anulando-lhe os efeitos?

Emmanuel – A obsessão é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual. No seu exame, contudo, precisamos considerar os méritos da vítima e a dispensa da misericórdia divina a todos os que sofrem. Para atenuar ou afastar os seus efeitos, é imprescindível o sentimento do amor universal no coração daquele que fala em nome de Jesus. Não bastarão as fórmulas doutrinárias. É indispensável a dedicação, pela fraternidade mais pura. Os que se entregam à tarefa da cura das obsessões precisam ponderar, antes de tudo, a necessidade de iluminação interior do médium perturbado, porquanto na sua educação espiritual reside a própria cura. Se a execução desse esforço não se efetua, tende cuidado, porque, então, os efeitos serão extensivos a todos os centros de força orgânica e psíquica. O obsidiado que entrega o corpo, sem resistência moral, às entidades ignorantes e perturbadas, é como o artista que entregasse seu violino precioso a um malfeitor, o qual, um dia, poderá renunciar à posse do instrumento que não lhe pertence, deixando-o esfacelado, sem que o legítimo, mas imprevidente dono, possa utilizá-lo nas finalidades sagradas da vida.Esta coluna tem o patrocínio e responsabilidade da Associação Espírita “Chico Xavier” de Jales.

Comentários