Vai faltar verdura



            *José Renato Nalini

            Atenção, veganos, vegetarianos e todos aqueles que pensam em adotar uma dieta mais saudável: a produção de hortaliças no chamado “cinturão verde” da Grande São Paulo pode entrar em colapso.

            Consequência do aquecimento global, que muitos ainda questionam e chegam a afirmar que não existe. É tudo conspiração de ambientalistas.

            Para quem duvida, isso foi objeto de uma pesquisa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas – FGVces, em parceria com a Citi Foundation. Foi um estudo realizado durante um ano inteiro e mais um mês, focado na sub-bacia Cabeceiras, da Bacia Hidrográfica Alto Tietê. Incluiu Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Arujá, Guarulhos e Capital. Tais cidades compõem o “cinturão verde”, que abastece de verduras a Grande São Paulo e é responsável pela produção de 16% de todas as hortaliças cultivadas no Estado.

            Os pesquisadores levaram em consideração a vulnerabilidade, exposição e ameaça climática nesses municípios. As variáveis climáticas desde 1980 confirmaram o aumento da frequência de eventos extremos, causadoras de resultados devastadores para a pequena agricultura familiar praticada na região.

            Os agricultores já não podem confiar naquilo que costumava ocorrer há décadas, anteriormente à de oitenta. Há um aumento da estiagem, mas também enchentes. Entre 1980 e 2015, verificou-se a ocorrência de chuvas intensas. No mesmo período, acréscimo invulgar de dias sem chuva. Há um componente global. São Paulo reflete o que está acontecendo em outras partes do globo. Os recordes de temperatura máxima foram constantes. Os dias estão ficando menos frios. O pior é a falta de previsibilidade. Não dá mais para contar com o tempo, ex-ajudante da plantação.

            Isso é um alerta que serve para todo o Estado. Fenômenos que nunca ocorreram já acontecem e assustam quem não está bem informado sobre a mutação climática gerada pelo aquecimento global, cujo responsável é o bicho-homem. Teima em se servir de combustíveis fósseis que emitem gases venenosos, causadores do efeito-estufa.

            Criar hortas coletivas, instruir-se, não deixar qualquer espaço de terra sem uma plantação, tudo isso pode mitigar a crise. Mas ela veio para ficar. Não se acredite em súbita melhora. O contrário é o que vai acontecer. Até que a humanidade crie juízo e cumpra seus compromissos com a natureza.

*José Renato Nalini é Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.

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