O que significam as demissões em massa do mercado tech?

 


Somente em 2022, mais de 120 mil pessoas foram demitidas de seus empregos em alguns dos maiores players de tecnologia – Meta, Amazon, Netflix e Google. Big techs menores e startups seguem o mesmo caminho

por Mariana Missiaggia

O que significam as demissões em massa do mercado tech?
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Google, Microsoft, Amazon, Meta, Twitter e Salesforce. Essa poderia ser uma lista das big techs mais poderosas do mundo, mas é, na verdade, um ranking das que mais demitiram em 2022. Foram mais de 200 mil dispensas no total.

Anúncios de cortes continuam chegando. Milhares de funcionários foram ao Linkedin relatar suas demissões. O anúncio mais recente veio do Spotify, que divulgou, no último dia 23/1, que vai cortar 6% do quadro de funcionários – cerca de 600 pessoas.

Ao que parece, a evolução da tecnologia também corta na própria carne. Mas por que tantas empresas estão demitindo grande parte da sua força de trabalho? As gigantes de tecnologia expandiram muito e rápido demais? Seriam as novas tecnologias de inteligência artificial que já estariam em um processo de substituir pessoas por máquinas? Qual seria o alerta deixado por essas demissões?

Para alguns especialistas, um pouco de tudo isso explica esse momento. E para outros, nada disso. Até porque nenhuma das empresas especificou a automação como motivação para suas recentes ações.

Outro ponto é que, mesmo com demissões e suspensões de contratações, todas as empresas continuam muito rentáveis. A justificativa de algumas dessas companhias tem sido a desaceleração macroeconômica. Segundo o analista Richard Camargo, da Empiricus Research, as empresas de tecnologia tiveram um boom de contratações durante o isolamento na pandemia.

Agora que o cenário mudou, houve uma escalada da inflação no mundo inteiro e ajustes tiveram que ser feitos para as empresas se adequarem à nova realidade de demanda. Nesse contexto, as grandes corporações precisaram reorganizar seus negócios, ainda que bastante sólidos, de modo a compensar a queda de receita nos últimos meses.

Na contramão dessa ideia, Jeffrey Pfeffer, professor da Stanford Graduate School of Business, tem acompanhado esse movimento e prefere deixar a economia de lado. Pfeffer define esse momento como resultado de um "contágio social". Ou seja, um comportamento imitativo.

Outro alerta levantado pelo acadêmico de Stanford é o de que as demissões aumentam as chances de suicídio em duas vezes e meia. Pfeffer argumenta que essas demissões em massa não apenas matam pessoas, mas também não melhoram o desempenho de uma empresa.

Em um artigo sobre o assunto, ele cita: "Poderia haver uma recessão tecnológica? Sim. Houve uma bolha nas avaliações? Absolutamente. A Meta contratou demais? Provavelmente. Mas é por isso que eles estão demitindo pessoas? Claro que não. Meta tem muito dinheiro. Essas empresas estão todas ganhando dinheiro. Eles estão fazendo isso porque outras empresas estão fazendo isso".

Em sua explicação, Pfeffer destaca que na maioria das vezes, as demissões não reduzem os custos, nem aumentam os preços das ações. Demissões não aumentam a produtividade e não resolvem o que geralmente é o problema subjacente e, por fim, podem sinalizar que uma empresa está passando por dificuldades. Portanto, qual seria o benefício disso tudo?

Dentre os exemplos citados, Pfeffer cita o caso da Lincoln Electric, famoso fabricante de equipamentos de soldagem. Em vez de demitir 10% de sua força de trabalho, a companhia fez com que todos recebessem um corte salarial de 10%, exceto a alta administração, que teve um corte maior.

Em sua análise sobre o assunto, Tonia Casarin, especialista em desenvolvimento de liderança humana, também destaca o viés desumano dessas demissões. Nas palavras de Tonia, devido ao alto número de demissões, os líderes se omitem e não conduzem o processo como ele deveria ser, de uma forma transparente, sem causar alardes ou mesmo respeitosa.

Agir com transparência e dar menos chance para rumores entre os colaboradores, com disseminação de informações infundadas que instauram um clima de desconfiança, medo e alarde deveria ser o norte dessas ações - que têm sido muito robotizadas, segundo a especialista.

Tonia também cita a situação daqueles que continuam na empresa. Embora aliviados por manter seus postos, dar acolhimento para essas pessoas e incentivá-las a contactar seus colegas pode ajudar no processo.

“A cultura de cuidado é importante para quem fica e para quem vai, de forma que a decisão é focada em negócios, mas deve-se cuidar das pessoas no processo”, diz Tonia.

 

IMAGEM: Amazon/divulgação

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