*José Renato Nalini
Se a humanidade tiver futuro, depois
da insensatez da minha geração, que aceita a destruição do único habitat
disponível, o julgamento em relação aos rústicos atuais será muito severo.
Inteiramente compreensível. Como extirpar o futuro, de forma insana e
inclemente?
A derradeira esperança está nas
crianças e nos jovens, mais sensíveis e capazes de enxergar o crime de lesa
humanidade que está sendo flagrantemente perpetrado neste Brasil que já foi abençoado.
Há um resíduo de lucidez nesta
nação. Apequenado e aparentemente impotente diante do descalabro do governo e
do parlamento. Mas a rede Uma Concertação pela Amazônia, em conjunto com os
Institutos Reúna e Iungo, criou o programa “Itinerários Amazônicos”.
O projeto propõe que estudantes
aprofundem a aprendizagem sobre a região Amazônica, não com o “decoreba” dos
afluentes, mas conhecendo seus povos, suas histórias, o que fazem, como vivem,
qual o futuro dessa última grande floresta tropical, covardemente destinada a
se converter num deserto.
A educação brasileira desistiu de
formar uma cidadania crítica e atuante, para fazer o educando memorizar
informações que ele consegue com um “clique” num mobile, de imediato, mais
atualizada, colorida e musical, muito mais interessante do que algumas aulas
prelecionais ultrapassadas.
Se os jovens brasileiros conhecerem
melhor a Amazônia, se indignarão com o que se faz ali, anistiando grileiros,
ocupantes clandestinos violentos de terras públicas, fechando os olhos para a
criminalidade organizada que mata indígenas e ambientalistas e explora minerais
preciosos.
Boa notícia para este Brasil tão
necessitado delas. Os moços serão convidados e estimulados a fazer pesquisa,
construir intervenções socioculturais no contexto da Amazônia. Tudo muito mais
dinâmico, vivo e sedutor do que a mera leitura de livros ou a oitiva de
palestras.
É disso que o povo precisa: motivo
para se orgulhar de sua terra. E defendê-la contra falsos profetas, que se
valem dos cargos para finalidades inteiramente divorciadas do bem comum.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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