Só falta permitir



José Renato Nalini Reitor da UNIREGISTRAL  e docente da Pós-Graduação da UNINOVE. Foi Secretário da Educação do Estado de São Paulo-2016-2018

 As coisas não acontecem por acaso. Tudo tem uma causa, da qual é efeito. A pior crise hídrica em um século deriva da inclemência humana em relação à natureza. Aquilo que se construiu, lenta e gradualmente, durante milênios, cede à sanha assassina do único animal que se autodenomina racional. 

Exuberante a floresta brasileira, tanto que os portugueses acreditavam ter redescoberto o Éden, o jardim que foi o lar do primeiro casal, cuja petulância os expulsou de lá. Tudo o que a natureza aprimorou ao longo dos séculos, foi cedendo, primeiro ao machado, depois ao fogo e à motosserra. Para “matar por atacado” as árvores, inventou-se o processo de dois tratores acionando uma corrente forte, capaz de arrancar dezenas ou centenas de espécies arbóreas a cada avanço.

São Paulo é um modelo peculiar. Região privilegiada com a Mata Atlântica e com estupendas serras que separam o planalto da orla, conseguiu, em poucos anos, substituir a cobertura nativa por cana-de-açúcar. Chegou-se a sustentar que essa monocultura seria mais benéfica ao clima do que a original! Pasmem! 

O resultado é que o sistema Cantareira está em vias de um exaurimento integral. Sem consciência, a população continua a lavar carros, a usar a vassoura hidráulica para as calçadas e a portar-se como “se nada fosse”.

Há uma receita para a falta d’água. É plantar árvores. Mas há uma diferença: elimina-se uma árvore com alguns minutos de motosserra. Para fornecer à natureza sua substituta, com os mesmos atributos de se servir da fotossíntese para garantir a vida, são necessários muitos anos. 

Impaciente, pretensioso, acreditando-se infinitamente superior às demais espécies vivas, o homem não aceita fazer algo de que não será, imediatamente, o beneficiário. Só que não existe milagre nesse território que depende de consciência ecológica, bom senso, humildade e uma infindável paciência. 

Ser paciente no século 21 parece invulgar. Até raríssimo, pois as pessoas se acostumam facilmente ao ritmo imposto pela disruptiva revolução tecnológica e tendem a se esquecer que a natureza observa as suas leis, sem se importar com a arrogância gananciosa daquele que a extermina sem pensar nas consequências. 

Comentários