SUSTENTABILIDADE: Lixo não existe: entenda a importância do projeto Aterro Zero

 



Empresas de qualquer setor e tamanho, que precisam responder às exigências e aos custos da Lei de Resíduos Sólidos, podem aderir a mecanismos para zerar ou reduzir o lixo produzido por suas atividades


  Por Mariana Missiaggia 11 de Junho de 2021 às 07:00

 

 | Repórter mserrain@dcomercio.com.br


Assim como as maiores potências mundiais realizam movimentações agressivas para tentar impedir consequências catastróficas para o clima global, os segmentos industriais e grandes nomes empresarias também se movimentam para tornar suas operações mais sustentáveis.


Grandes empreendimentos, como shoppings, e o setor automotivo são destaques, com ações que incluem corte de emissões, gestão de resíduos e até restauração de mata nativa. Embora sejam formas importantes de tentar compensar o impacto ambiental, ainda é preciso avançar para gerar ganhos ao meio ambiente.


Alinhado aos interesses de sustentabilidade mundial e ao ESG (métricas ambientais, sociais e de governança), Coronel Homero Cerqueira, professor de fiscalização ambiental e ex-presidente do ICMBio, tem difundido a importância do projeto usina sustentável aterro zero, que tem como objetivo gerir melhor os resíduos sólidos sem causar danos ambientais e à saúde pública.


Na última quarta-feira (9/6), Homero se reuniu com integrantes do Núcleo de estudos Socioambientais (NESA), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), para discutir os problemas dos grandes centros urbanos com resíduos sólidos.


Citando que 54% dos resíduos gerados pela população brasileira são orgânicos e não possuem a destinação adequada, o especialista apontou soluções que além de resolverem um problema, gerariam emprego e renda às populações carentes das grandes capitais, médias e pequenas cidades. Entre os tipos de lixo, o orgânico é o mais complicado para lidar, pela aparência e odor.


A cidade de São Paulo produz 20 mil toneladas por dia de resíduo sólidos e a destinação desse volume segue duas alternativas, o aterro sanitário e a compostagem.


 




SOLUÇÃO


Na opinião de Homero, existem possibilidades para acabar, por meio da reciclagem, com o desperdício dessas sobras orgânicas, que são consideradas lixo, transformando-as em matéria-prima. A ideia é aproveitar integralmente o material orgânico descartado, com o qual a sociedade tem maior problema em lidar, explica o professor.


"O projeto é transformar todos os resíduos orgânicos em adubo rico em nutrientes em apenas 45 minutos através da compostagem, diminuindo o volume enviado à aterros sanitários e aproveitando em hortas livre de agrotóxicos".


Um dos casos citados pelo especialista é o Shopping Eldorado, que teve alto investimento em mudança de cultura e um baixo investimento financeiro para se tornar um caso exemplar para resolver impasses urbanos ligados ao lixo, alimentação e consumo de água e energia.


Sobre a cabeça dos dez mil clientes que circulam por lá diariamente cresce uma horta com dezenas de espécies de verduras, legumes, ervas e frutíferas - tudo orgânico, que também contribuem para baixar a temperatura da praça da alimentação.


A criação de uma usina de tratamento na garagem de serviço do shopping mudou as regras do condomínio, produziu uma cartilha para os lojistas, treinou os funcionários diretos para fazer a separação correta e instalou ilhas de manuseio de lixo orgânico dentro da praça de alimentação.


Por fim, a cereja do bolo – a instalação de uma horta para aproveitar o adubo de alta qualidade resultante do processo de compostagem. Atualmente, a plantação ocupa metade do espaço de 9,5 mil metros quadrados do terraço - uma forma de visualizar o ciclo completo do lixo orgânico e entender o valor de cuidar dele.


Tendo em vista o aumento constante da geração de resíduos, que segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, foi de 66,7 milhões de toneladas, em 2010, para 79,1 milhões em 2019 - uma diferença de 12,4 milhões de toneladas - Homero destaca a importância de empresas de qualquer setor e tamanho respeitarem as exigências estabelecidas pela Lei de Resíduos Sólidos para zerar ou reduzir o lixo produzido por suas atividades.


"Temos bons exemplos que comprovam que esse projeto pode ser implementado de forma nacional, melhorando aspectos sociais, urbanos, sanitários, ecológicos, econômicos e construtivos", disse.

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