Com a imagem queimada

 


14 | JUN | 2021

Com a imagem queimada

Bom dia!

Estudo do projeto MapBiomas, divulgado na última sexta-feira (11) pelo Jornal Nacional, apontou que 99,8% do desmatamento registrado em 2020 no Brasil foi ilegal. O desmatamento avançou em todos os biomas brasileiros e os casos identificados ou não tinham autorização, ou aconteceram em área protegida ou em desrespeito ao Código Florestal.

Embora a responsabilidade pela fiscalização e combate do desmatamento ilegal seja dos governos (especialmente, o federal), a cobrança sobre o setor privado que age dentro da lei só aumenta dia após dia. Grandes investidores mandam sinais cada vez mais claros e apresentam maior resistência a mercados que não adotam critérios ESG.

Na abertura da cúpula do G7, no sábado (12), na Inglaterra, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson reiterou sua confiança em uma “revolução industrial verde”. Apesar de o comunicado final ter sido alvo de críticas, entre outros pontos, por não apresentar um cronograma inicial para erradicar as emissões a carvão e oferecer apenas 1 bilhão de vacinas extras contra coronavírus para os países mais pobres do mundo nos próximos 12 meses, houve uma sinalização das grandes potências de que querem acelerar o ritmo de combate às mudanças climáticas. Uma mensagem que não é desprezada pelo mercado.

Enquanto o mundo caminha na mesma direção, o Brasil parece estacionado no tempo, sem entender o real valor da floresta em pé. Há cerca de um ano, um grupo formado por 29 instituições financeiras que gerenciam mais de US$ 3,7 trilhões em ativos em todo o mundo exigiu que o governo brasileiro freasse o crescente desmatamento no país. Alguns dias depois, lideranças de grandes grupos empresariais com atuação no Brasil entregaram um documento ao vice-presidente Hamílton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, manifestando preocupação com a percepção negativa da imagem do Brasil no exterior e o enorme potencial de prejuízo para os negócios.

O governo planejava na ocasião uma campanha publicitária no exterior, o que soou como desperdício de dinheiro público às lideranças empresariais. Em 2020, o governo federal investiu R$ 27,7 milhões com publicidade no exterior. Um ano se passou e o quadro ambiental parece ainda mais alarmante, como aponta a pesquisa 2021 do MapBiomas. Na mesma medida, a imagem do país lá fora está cada vez mais comprometida, o que só faz aumentar a suspeita sobre a procedência da carne bonina nacional e os boicotes silenciosos à entrada de produtos brasileiros em alguns mercados.

Como se vê, não faltaram investimentos em publicidade ano passado para tentar mudar a imagem do Brasil no exterior. De nada adianta tocar o tambor sem um combate efetivo aos crimes ambientais. Antes disso, é preciso agir e isso passa pelo fortalecimento dos órgãos ambientais, a ampliação das equipes de fiscalização e a punição aos criminosos. Na última sexta (11), Mourão anunciou uma nova operação das Forças Armadas para combater crimes ambientais na região da Amazônia, ao custo R$ 50 milhões em dois meses. O tempo vai mostrar se essa foi mais uma peça de retórica para tentar mudar a imagem queimada que o Brasil carrega lá fora. 

Boa leitura!



#DESTAQUE

Acordo  histórico - O Carrefour assinou na última sexta-feira (12), o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que pagará a maior indenização em um caso de racismo da América Latina. A companhia se comprometeu a pagar R$115 milhões por conta da morte de João Alberto, em 2020, em uma loja da rede em São Paulo.

#ARTIGOS

Opinião Estadão - A seca e o desperdício de água

Joisa Dutra - Lost in translation

Aline Arantes - Bala perdida: Kathlen, Bianca e eu não gostaríamos de conhecê-la

Carlos Ragazzo e Bruna Cataldo - O papel da agenda de sustentabilidade na estabilidade financeira

#EMPRESAS

Shell está vendendo sua participação no maior campo de petróleo dos Estados Unidos para aumentar seus investimentos de baixo carbono.

Geo Energética vai investir R$ 300 milhões em três plantas de biogás produzido a partir de resíduos da agroindústria.

Sabesp registrou alta nas suas ações após ser anunciada a possibilidade de privatização da companhia paulista de saneamento.

Safra lançou dois fundos com foco em investimentos ESG.

#ENTREVISTA

Energias renováveis - Nicola Cotugno, diretor-geral da Enel no Brasil, falou à Exame sobre os rumos da empresa nos próximos anos. A empresa acaba de inaugurar a maior usina eólica da América do Sul, no Piauí.

#ENERGIA

Gestão de reservatórios - Em mais uma ação para evitar um racionamento de energia elétrica no segundo semestre, o governo prepara uma medida provisória (MP) que tira poderes da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama na gestão dos reservatórios de usinas hidrelétricas.

Gerenciamento da energia - Agentes do setor defendem que tanto o sistema de bandeiras tarifárias quanto a estrutura das tarifas de energia poderiam ser aprimorados para permitir que consumidores cativos atendidos na baixa tensão, como residências e pequenos estabelecimentos comerciais e de serviços, gerenciem melhor seu consumo.

GLP em alta - A Petrobras anunciou que vai aumentar o preço médio do gás liquefeito de petróleo (GLP). Esse foi o primeiro aumento da gestão do novo presidente da empresa, Joaquin Silva e Luna.

#EVENTO

Summit ESG - O Estadão fará a partir de amanhã uma sessão de debates, o Summit ESG, que reunirá representantes de empresas, ONGs e academia em torno dos pilares socioambientais que devem definir os rumos do mundo nos próximos anos.


 

#INTERNACIONAL

US$ 100 bilhões por ano - Esse é o valor que a ONU prometeu arrecadar anualmente para ajudar países pobres a reduzir as suas emissões de carbono e participarem da luta contra as mudanças climáticas.

#MEIO AMBIENTE

Desmatamento em alta - O MapBiomas lançou relatório inédito com dados do desmatamento no Brasil, que mostra que o país teve um aumento de 14% nesse cenário em 2020. Ao todo foram desmatados 158 hectares ou um Parque do Ibirapuera por hora no ano passado, especialmente na Amazônia.

Devastação recorde na Amazônia - O Inpe afirmou que o desmatamento na Amazônia cresceu 46% nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro, ou seja, 21 mil km² de floresta foram colocados abaixo. Reportagem especial da revista Época mostra ainda como a redução de ações do governo e da estrutura de fiscalização tem colaborado com esse cenário.

Prejuízo ambiental - A mineração ilegal de ouro causou um prejuízo social e ambiental na reserva indígena Yanomami, em Roraima, estimado em R$ 2,2 bilhões, de acordo com um cálculo da ONG CSF-Brazil em parceria com o Ministério Público Federal. A ONG desenvolveu uma ferramenta que leva em consideração diversos fatores para avaliar o tamanho do prejuízo que atividades ilegais causam a um ecossistema.

Recuperação lenta - Um ano após os devastadores incêndios de 2020, o Pantanal começa a ver sinais de recuperação na área verde que foi destruída. Porém, outros efeitos ainda são sentidos pela população ribeirinha, como a falta de peixes nos rios e a seca antecipada.

Impacto positivo na moda - A moda é uma das indústrias que mais causa efeitos negativos ao meio ambiente, por isso, empresas como a 221 Consultoria, TS Studio e Neo Ventures se uniram para criar o Fashion Hub, canal de inovação aberta que conecta grandes companhias e startups para o desenvolvimento de projetos em prol de resoluções de impacto positivo.

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