Pesquisa internacional revela que mudanças na percepção de cheiros podem anteceder alterações de memória; durante a pandemia o sintoma ganhou notoriedade, mas tem múltiplas origens e merece investigação
Para a Dra. Camila Marinho, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, essa descoberta reforça algo que a prática clínica já indicava: a perda de olfato vai muito além das causas respiratórias. “É verdade que a Covid-19 deixou esse sintoma famoso, mas muitas outras situações podem afetar nosso olfato”, afirma. Segundo ela, infecções comuns como gripes e resfriados, rinite mal controlada, sinusite crônica, pólipos nasais, traumas na cabeça, envelhecimento e até a exposição prolongada a químicos irritantes, como cloro e inseticidas, podem prejudicar a percepção dos cheiros. “Doenças neurológicas também entram nessa lista. Em alguns casos, a perda de olfato pode ser o primeiro sinal de condições como Alzheimer ou Parkinson”, reforça. Essa variedade de possibilidades torna essencial saber quando a perda olfativa merece atenção médica imediata. “Se o olfato desaparecer de repente, vier acompanhado de dor de cabeça forte, alteração da visão ou desequilíbrio, ou se houver histórico de trauma na cabeça, é fundamental procurar um otorrino o quanto antes”, orienta a especialista. Ela também destaca sinais adicionais: “A perda de olfato que não melhora após algumas semanas, ou que surge sem nariz entupido ou secreção, precisa ser investigada. E atenção especial para distorções do olfato, como sentir cheiros que não existem ou perceber odores comuns como queimado ou podre.” Quando a perda é progressiva e ocorre sem sintomas nasais, a suspeita de causa neurológica aumenta. A médica explica que isso acontece porque pode haver comprometimento dos nervos ou das áreas do cérebro responsáveis por interpretar os cheiros. “A preocupação cresce quando o paciente apresenta tremores, alterações de memória, dificuldade de raciocínio ou mudanças de comportamento. Esses sinais podem indicar que o problema não está no nariz, mas nas vias cerebrais do olfato.” Além de Alzheimer, outras condições podem se manifestar por meio da perda olfativa. “Na doença de Parkinson, muitas vezes o olfato diminui anos antes dos sintomas motores”, lembra a otorrino. Ela destaca ainda que quadros de depressão, esclerose múltipla e até tumores cerebrais podem afetar o sistema olfativo. “No caso da esclerose múltipla, por exemplo, o nariz pode estar completamente desobstruído, mas o cérebro não consegue processar bem os odores. A perda pode ser flutuante e piorar durante os surtos.” Para investigar o quadro, existem testes específicos que medem a capacidade de sentir e identificar cheiros. “O mais utilizado é o SmellTest, versão brasileira adaptada do teste de Connecticut”, explica. Ela também comenta as inovações recentes: “Uma novidade muito interessante é o Multiscent, um teste digital criado por pesquisadores brasileiros, que aplica estímulos olfativos por meio de um iPad e registra as respostas do paciente de forma interativa”. Em relação ao tratamento, a abordagem depende diretamente da causa. Inflamações, alergias, sinusite e rinite geralmente têm boa resposta quando o processo inflamatório é controlado. Obstruções físicas, como pólipos e desvios importantes de septo, podem exigir cirurgia. Lesões nos nervos após Covid-19 ou traumas também têm potencial de melhora, embora mais lenta. “O treinamento olfativo funciona como uma ‘fisioterapia para o nariz’. É cientificamente comprovado e pode ajudar muito, principalmente após gripes, sinusites ou Covid. Mas é um processo que exige paciência, porque a melhora pode levar de três a seis meses”, explica. O método consiste em inspirar fragrâncias específicas duas vezes ao dia, com foco e concentração. A reversão da perda de olfato é possível em muitos casos, mas depende de fatores como idade, tempo de evolução do quadro e causa do problema. “Danos mais severos aos nervos, como os provocados por traumatismos cranianos graves ou doenças neurológicas degenerativas, podem levar a perdas permanentes”, diz a médica. Para a população, a mensagem da otorrino é clara: não normalizar o sintoma. “O olfato é muito mais do que sentir o cheiro de um perfume ou de uma comida gostosa. Ele nos protege — avisa sobre gás, fumaça, alimento estragado — e está ligado às nossas memórias e ao prazer de comer”, destaca. “Se você notar que seu olfato diminuiu, desapareceu ou está distorcido, procure um otorrinolaringologista. Investigar a causa é o primeiro passo para encontrar o tratamento certo e recuperar sua qualidade de vida”, finaliza a Dra. Camila Marinho, otorrinolaringologista do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco. |
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