Bolsonaro – #EleNão – interditado


Léo Rosa de Andrade é Doutor em Direito pela UFSC, Psicólogo e Jornalist

"Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício da inteligência exige você perfurar essa camada do poder e entender quais os poderes que se exercem sobre você.
Isso é difícil porque as pessoas em geral não meditam sobre a origem das suas ideias. Se você não sabe as origens das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você.
O rastreamento biográfico dos seus pensamentos é fundamental na formação da consciência: você conhecer a origem das suas ideias e saber quais as correntes de pensamento que estão moldando o seu pensamento.
O ser humano médio acredita piamente que pensa com a própria cabeça, o que é praticamente impossível" (edito Olavo de Carvalho – Jardim das Aflições, 2017, que refere de Émile-Auguste Chartier, Histoire de mes pensées)".
O poder exercido sobre as pessoas – produto de organizações impessoais, complexas e dissimuladas – reduz suas aspirações à possibilidade, apenas, de selecionar entre ofertas programadas por grupos dominantes.
Independentemente dos fundamentos teóricos ou práticos que têm justificado as diferenças sociais presentes nas tantas formas ditas políticas de conviver, somos, ao cabo, produto de relações de poder.
Ilusões que nos embalam e que em nós se alojaram por concessão ideológica de vontades que não divisamos persuadem-nos de que as razões que preconizamos são certezas emanadas do nosso próprio âmago.
Somos conduzidos por instrumentos formadores de opinião a nos iludir com a sensação de sermos livres nas nossas deliberações. A liberdade que detemos, contudo, é a de nos determinar dentro de parâmetros pré-estabelecidos.
O poder nunca frequentou os espaços populares. Decididamente, não é coisa do povo. Só uma minoria o exerce. Só essa minoria o conhece o suficiente para manipulá-lo com competência. O poder lhe pertence.
inguém sairá das disputas por poder ‘dono das próprias ideias’. O possível é saber de onde me vieram os meus pensamentos; como se constituíram os meus valores; como eu os assumi e os levo adiante.
Para se viver em Sociedade sem ser tragado pela massa, há-se de aprender a perceber a quem servem as posições pessoais e políticas que se toma" (edito livro de minha autoria: Liberdade Privada e Ideologia, Acadêmica, 1993).
Para compreender as ideias que Bolsonaro defende, fui "ouvir" seu guru, Olavo de Carvalho, um senhor que se denominou a si mesmo filósofo, embora não detenha credenciais em obras ou em títulos para tanto.
Interessante! Não obstante eu me posicionar em diametralmente opositivo ao inspirador do presidente da República, não o vejo violento em nada. Tenho-o por equivocado, mas não o encontrei agressivo.
A agressividade que o caracteriza, pois, Bolsonaro a colheu noutro lugar. Mas, preocupa-me o equivocado: o guru investe contra as conquistas civilizatórias do Iluminismo; suas crenças estão ancoradas no pensamento medieval.
As concepções do guia moral do presidente converteram-no, antes de dirigente de toda a Nação, em um patrulheiro ideológico de bagatelas. O administrador do País está brincando de meganha cultural, regulando mixaria.
São mixarias, contudo, que atiçam a massa ignara fundada em obscurantismo religioso, retrocesso científico, preconceitos sociais, intolerâncias de gênero, autorização de violência pessoal, militarização das escolas.
Bolsonaro ideologizou radicalmente suas atividades governativas, passando-se pelo que intrinsecamente ele é: um comissário provinciano de costumes. Os que carecem de um xerife de condutas formam sua torcida.
Sectários moralistas, contudo, já não determinam o mundo. Bolsonaro seria homenageado como Pessoa do Ano nos Estados Unidos da América, país que dificilmente embarga alguém por suas opiniões.
Houve, contudo, surpreendentes manifestações. Democratas compromissados com liberdades públicas entenderam que nosso presidente não merece uma plataforma de reconhecimento político naquela Nação.
O episódio é grave. Não conheço antecedentes. Bem, Bolsonaro admira os EUA. Desejo que ele alcance a significação do gesto: autoridades e povo estadunidense – #EleNão – interditaram o presidente do Brasil.

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