Tecnologia gera emprego


Ana Pimentel nasceu em Figueira da Foz, no litoral de Portugal. Graduou-se em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. É jornalista e fundadora do portal Observador. Escreve sobre economia, finanças e tecnologias.

A sociedade humana está navegando sobre uma grande onda de transformações. Notícias consistentes apontam que a Quarta Revolução Industrial – com uso de várias tecnologias, inclusive da Inteligência Artificial – vai automatizar tarefas que hoje são realizadas pelos trabalhadores humanos. Há estimativas de que até cinco milhões de empregos sejam extintos nos próximos anos. Isto ocasiona preocupações.

As inquietações moveram a grande empresa Deloitte, especializada em serviços corporativos, fundada em Londres em 1845 e hoje presente em mais de 150 países. Com a ajuda de um grupo de pesquisadores, a empresa realizou um amplo estudo sobre o impacto da tecnologia no nível de emprego.

O estudo coletou e analisou dados de censos da Inglaterra e do País de Gales, desde 1871, abrangendo um período de 140 anos. Houve conclusão plena de que – nesse longo período de progresso na região – a tecnologia ajudou a criar mais empregos do que destruiu. Ou seja, a tecnologia foi uma grande máquina de geração de empregos.

Verificou-se que a utilização de trabalhadores na agricultura e na indústria foi superada pelo rápido crescimento dos negócios nos setores de serviços, tecnologias e criatividade. As máquinas passaram a assumir tarefas repetitivas e trabalhosas, mas em nenhum momento – nos últimos 50 anos – dispensaram a necessidade do trabalho humano.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística britânico, entre 1992 e 2014, o número de auxiliares de enfermagem no Reino Unido aumentou 909%. Nesse mesmo período, o número de auxiliares de educação aumentou 580%; o de assistentes sociais aumentou 83%; o de prestadores de cuidados domésticos aumentou 168%.

Por outro lado, nesse período, o número de tecelões caiu 79%; o de datilógrafos caiu 57%; o de secretárias administrativas caiu 50%. Mas o estudo mostrou que em setores (como medicina, educação e serviços profissionais) a tecnologia aumentou a produtividade e o emprego, ao mesmo tempo.

O acesso mais fácil à informação e o ritmo mais acelerado da comunicação revolucionaram as empresas baseadas no conhecimento. Por exemplo, em 1871 havia 9.832 contabilistas na Inglaterra e no País de Gales; em 140 anos se elevaram para 215.678.

O progresso tecnológico ajudou a baixar os preços de bens essenciais, como os alimentos, mas também dos eletrodomésticos e dos carros (que caíram para a metade nos últimos 25 anos). Isto levou as pessoas a gastar mais dinheiro em atividades de lazer, o que fez criar novas exigências e novos postos de trabalho. Entre 1951 e 2011, o número de empregadas em bares ingleses e galeses quadruplicou.

Por fim, para mais ilustrar este aspeto, há outro exemplo: o dos cabeleireiros. O aumento dos rendimentos das pessoas permitiu que elas passassem a gastar mais em serviços pessoais, como nos salões dos cabeleireiros. Em 1871, na Inglaterra e no País de Gales, existia um salão para cada grupo de 1.793 cidadãos; hoje existe um salão para cada grupo de 287 cidadãos.

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