Sob poderosos

Reginaldo Villazón

Após o ano de 2017 – em que a Coreia do Norte não cessou de testar armas de grande poder destrutivo e de trocar ameaças com os Estados Unidos –, nesta semana o mundo é informado de que a Coreia do Norte enviará uma delegação de representantes aos Jogos Olímpicos de Inverno, que serão realizados no próximo mês de fevereiro na Coreia do Sul, nos quais se espera a participação de 84 países. Uma grande notícia, depois de 2 anos sem diálogo entre os dois países.

No último dia 09, dois grupos diplomáticos – do Norte e do Sul – se reuniram na sala de conferências existente na zona desmilitarizada e apertaram as mãos. Oficialmente, as duas Coreias estão em guerra há mais de 65 anos e não mantêm relações políticas. Mas elas ainda são uma só nação e um só povo, pois sua divisão ocorreu por causas externas. Muitos familiares e amigos ainda mantêm a esperança de reencontro. Isto leva a crer que será possível haver um clima de cordialidade.

A perspectiva de reunificação das Coreias é um projeto difícil de acontecer. Historicamente, a Coreia (inteira, não dividida) foi penalizada por estar localizada numa região estratégica, próxima de grandes potências. A península coreana se localiza no Leste da China e no Sul da Rússia. Tem 1.416 Km de fronteira com a China e 19 Km de fronteira com a Rússia. É banhada a Oeste pelo Mar Amarelo, ao Sul pelo Mar da China Oriental e a Leste pelo Mar do Japão, onde está o Japão.

A ação imperialista do Japão na Coreia iniciou em 1876. Em 1905 a Coreia foi declarada protetorado japonês. Em 1910 foi integralmente ocupada pelos japoneses. O domínio japonês teve fim com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Neste mesmo ano, os russos ocuparam o Norte da península coreana e os norte-americanos ocuparam o Sul. Assim nasceram a Coreia do Norte como um país socialista e a Coreia do Sul como um país capitalista.

De 1950 a 1953, aconteceu a famosa Guerra da Coréia. A Coreia do Norte, com apoio soviético e chinês, invadiu a Coreia do Sul. Esta se defendeu, com apoio da ONU e dos Estados Unidos. Milhões de civis e militares perderam a vida. Por fim, um acordo firmou a zona desmilitarizada (Paralelo 38 N) como separação entre as duas Coreias, mas nenhum tratado de paz foi assinado. Como se pode ver, a península coreana envolve fortes interesses estratégicos geopolíticos.

Hoje, depois de tantos sofrimentos, as duas Coreias tentam a reaproximação. Mas a reunificação – desejável para a população – prende-se a um jogo de forças. Aos Estados Unidos, interessa uma só Coreia capitalista na região. À China e à Rússia, não interessa o crescimento da influência norte-americana na região. E ao Japão? Interessa ver seu antigo domínio virar uma potência na região? O mundo ainda é assim. Cria-se conflito, evita-se a paz. Por pura estupidez política.

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