Democracia de consumo

José Renato Nalini
secretário estadual de Educação



A sociedade de consumo em que estamos imersos nos conduz a uma hegemonia do catecismo consumista. Tudo é para já. Tem de ser usufruído de imediato. Não há tempo para planejamento, nem se leva a sério projeto "a longo prazo".

Somos bombardeados pela mídia tradicional. A TV a nos mandar comprar e imediatamente, porque senão perdemos a boa oferta. Em política, o que interessa é o resultado imediato. Um paradoxo, por exemplo, que educação deva ser o objetivo primordial de todos os exercentes de autoridade em nome do povo, algo a ser edificado no decorrer dos anos, rumo a um estágio civilizatório ainda longe de ser alcançado e os programas que cobram produto final em alguns meses.

A visão consumista não se coaduna com as urgências contemporâneas. O mundo necessita de compreensão, compaixão, perdão, amor. Categorias pouco praticadas, embora muita vez ocupem mínimo espaço no discurso oficial.

Não há governança inteligente quando a profundidade dos atores principais não atinge a fundura de um pires. A mentalidade consumista exige gratificação imediata. As soluções têm de ser rápidas e sem custo. Queremos amor sem compromisso, doce sem calorias, governo sem impostos. Filhos sem responsabilidade pela educação integral, com esquecimento de que um filho não é modismo. É obrigação e dever por toda a vida.

A retomada de um rumo para a nau insensata requer equilíbrio. Meritocracia com responsabilidade. Repensar as instituições. Escolher para titularizá-las apenas pessoas sérias, experientes, com uma consistente sabedoria de vida. Democracia deve ser algo esclarecido e com o poder de decisão partilhado entre o representante e o representado. Ouvir mais a população. Participação popular efetiva, para mostrar que os tempos são muito perigosos. Faltam recursos para quase tudo. Arrecadação caindo, como reflexo da recessão. Perspectivas muito remotas de recuperação. O Estado de São Paulo é o mais penalizado, pois investiu em indústria da 3ª Revolução Industrial, sucateada e desnecessária para as empresas que surgirem à luz da 4ª Revolução. Na qual já estamos imersos, com a profunda mutação das comunicações e das informações. É preciso muito juízo, muita sensatez, muita prudência e muito sacrifício. Verbetes pouco pronunciados e menos ainda observados no Brasil de nossos tristes dias.
 

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