Receita francesa

Reginaldo Villazón



Na última segunda-feira (08 maio 2017), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) ocupou a tribuna do Plenário no Senado Federal para tirar lições da recente eleição presidencial francesa. Na véspera, lá na França, o administrador público Emmanuel Macron (39 anos) venceu a advogada Marine Le Pen (48 anos) com 66% de votos favoráveis versus 34% de votos contrários. Ele representou um movimento político centro-liberal e ela um partido de extrema-direita.

Macron e Le Pen apresentaram propostas de governo divergentes aos franceses. Macron defendeu a permanência da França na União Européia; Le Pen defendeu a retirada. Macron propôs a diminuição do número de funcionários público; Le Pen propôs o aumento. Macron prometeu políticas de inclusão social e econômica dos imigrantes e seus descendentes; Le Pen prometeu políticas de limitação do acesso deles à cidadania francesa e a diversos benefícios sociais.

É provável que os eleitores franceses tenham preferido votar em Emmanuel Macron, com o seu discurso centro-liberal, por não haver um candidato mais preparado (um estadista) em condições de assegurar um futuro melhor para a França. Em todo caso, sua vitória frustrou a extrema-direita, que vinha avançando junto ao eleitorado. Em 2012, Marine Le Pen ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Em 2017, conquistou o segundo lugar no primeiro turno e disputou o segundo turno.

Para o senador Cristovam Buarque, no seu discurso, a ascensão de Emmanuel Macron mostra com clareza a busca dos eleitores pela renovação, por novas alternativas políticas, sociais e econômicas. Mostra, ainda, de forma escancarada, a crise dos partidos, instituições e ideologias que perderam a força de convencimento. Revela a ruptura do eleitorado francês com o que é tradicional (de direita ou esquerda): nacionalismo, autoritarismo, protecionismo, isolamento.

Referindo-se ao Brasil, o senador aponta sua metralhadora de críticas contra a classe política, da qual ele mesmo faz parte. Censurou os políticos que continuam proferindo os mesmos discursos dos anos 50, pregando amarras à sociedade. Disse que os políticos precisam se ajustar às realidades na direção do futuro. Que a sociedade tem que agir livre de amarras, com liberdade exercida sobre regras éticas. Que os jovens são como imigrantes que precisam caminhar para o futuro.

O discurso do senador Cristovam Buarque teve grande repercussão dentro e fora do Senado Federal. É muito bom que isso tenha acontecido, pois ajuda a ampliar a consciência sobre as turbulências transformadoras por que passam o Brasil e o mundo. E sobre as mudanças necessárias em tudo o que se torna obsoleto, inclusive idéias e comportamentos. Os franceses deram o exemplo de que é possível, em uma única eleição, o povo manifestar suas vontades e viabilizar o futuro que deseja.

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