Por que estudar é chato?

*José Renato Nalini

Já disse mais de uma vez que criança é criativa, inteligente e bem humorada. Depois se torna agressiva e malcriada. Quando isso ocorre? Quando vai para a escola.

Pode não ser regra geral. Mas também não é exceção. A escola perdeu o seu poder de sedução. Não atrai, não segura, não faz a criança vibrar.

Montaigne já descobrira o óbvio há séculos. Em seus "Ensaios", ele critica o método de ensino - que não mudou muito desde então. Dezenas de crianças são trancadas numa sala. Alguém faz o mesmo discurso para todas elas, sem distinguir seus temperamentos, sua história de vida, suas preferências e aptidões. E ninguém deveria estranhar que seja raro alguma delas "dar certo".

O mundo precisa de pessoas antenadas com a realidade e que possam extravasar a sua curiosidade. Não faz mais sentido ensinar sintaxe, conjugação de verbos, transmitir informação que deve ser memorizada, se os talentos são ignorados e até boicotados. Os alunos mais inteligentes são exatamente os hiperativos, cujos pais são convidados a retirá-lo da escola.

Quem é que está brilhando no mundo de hoje? Os jovens que podem não ter sido os "primeiros da classe", mas foram estimulados a criar. Principalmente na informática, na eletrônica, na cibernética, nessas áreas que dominaram o convívio e que mudaram - irreversivelmente - o curso da História.

É preciso suscitar o jovem para que ele responda a uma necessidade. Liberá-lo das avaliações que somente aferem o resultado da "decoreba". Mácula que é replicada nos concursos, provas seletivas da capacidade de memorizar e não de recrutar os mais aptos ao desempenho de uma profissão.

Israel está dando um show em termos de inovação e empreendedorismo. Além da raça que passou por holocausto e a tradição de luta para subsistir, há coisas interessantes. Ali o serviço militar é obrigatório: três anos para homens e dois anos para mulheres. Uri Levine, o criador do "Waze", lembra que servir às Forças Armadas dá amadurecimento mais consistente. E ensina a não ter medo do fracasso. O medo do fracasso é o que atrasa muitos países, inclusive o Brasil.

Ele culpa a mídia e com razão. Aqui, as capas de periódicos semanais são destinadas aos criminosos. Sejam eles os "comuns" e os "de colarinho branco". Os heróis deveriam ser os que descobrem como atender a uma necessidade ainda insatisfeita e oferecem o resultado de sua ideia, de seu trabalho ou de sua pesquisa - quase sempre tudo isso junto - para uso de toda a sociedade.

Além do Waze, que hoje permite a todos fazer os melhores caminhos, já que nossas cidades foram feitas para servir o automóvel e não às pessoas, o economista Uri Levine, que serviu na Unit 8200, a agência de inteligência cibernética de Israel desenvolveu outras funcionalidades. Criou, por exemplo, a FeeX, a "Robin Hood" das taxas. Descobre quanto se paga em taxa, algo que não é divulgado e que movimenta seiscentos bilhões de dólares por ano. Também implantou o Engie, que detecta o problema do carro sem a necessidade de ir ao mecânico. Roomer é o mercado para reservas de hotéis. Permite que se venda a reserva feita e que não será utilizada. Outro aplicativo é a start-up FairFly. Propicia a aquisição da passagem aérea por melhor preço.

O segredo é estar "ligado" às necessidades contemporâneas e devotar-se a satisfazê-las. E a escola deveria servir para isso, não para tornar os alunos adolescentes aborrecidos e chatos, até mais chatos do que as insípidas aulas que deveriam assistir. *José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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