Agora é fashion

Reginaldo Villazón



 
O escravo e pensador grego Esopo (620 a 564 a.C.) era hábil em ensinar bons princípios através de histórias simples. Suas fábulas são lembradas e recontadas. Em uma delas ("O pastor e o lobo"), um jovem pastor foi encarregado de vigiar um rebanho de ovelhas perto de uma vila. Algumas vezes, ele gritou "Lobo! Lobo!" só para ver os donos das ovelhas virem correndo. Um dia, um lobo faminto se aproximou e o pastor gritou, mas ninguém veio acudir. Moral: ninguém acredita num mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade.

Jesus Cristo, na tarefa de pregar ensinamentos universais, valorizou a verdade e censurou a hipocrisia em várias ocasiões. No Sermão da Montanha, o conteúdo mais importante do Novo Testamento, Jesus recomendou: "Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos. Em verdade, eu vos digo, eles já receberam a sua recompensa." Assim Jesus condenou a mentira, mesmo na forma de uma pequena e inofensiva simulação.

Hoje os juristas defendem a verdade e asseguram que as leis não concedem o direito de mentir a ninguém. Eles acham compreensível que os acusados tenham o direito de permanecer calados e de não produzir provas contra si mesmos. No entanto, para garantir o direito de ampla defesa, eles aceitam que os acusados e seus defensores adotem uma tese de defesa. Daí, ninguém ser punido por se defender com um argumento qualquer: inocência, delito praticado sem intenção ou delito praticado sob forte influência emocional.

Não é correto afirmar que a decadência de valores tradicionais faz a sociedade atual aprovar a mentira, a falsidade, a burla, a enganação, a embromação. Mas é preciso admitir que hoje ocorre uma confluência de fatores que afetam o comportamento coletivo. Os círculos familiares e religiosos não exercem o controle social como antes. As novas tecnologias e a competição capitalista alteram os comportamentos. Os anseios por consumo e prazer reduzem a atenção das pessoas em relação a muitos assuntos.

A isto se podem somar o colapso das instituições políticas e administrativas (que carecem de muitas reformas) e a condição da justiça em não ter tanta eficiência contra as pessoas investigadas que têm dinheiro para pagar bons advogados. Com isto o cenário fica perfeito para um fato evidente: virou moda, gente importante e bem vestida aparecer nos noticiários e mentir desaforadamente. Ocupantes de cargos políticos, administrativos e empresariais – sabidamente velhacos – se dizem puros e inocentes.

Nessas figuras indecentes existe a irresponsabilidade que gera a exclusão social, o sofrimento dos doentes nas filas do sistema de saúde, a precariedade do ensino público, as armadilhas das estradas mal conservadas e outros males. Atitudes mentirosas não valem a pena. Nós podemos viver muito bem (como faz a maioria das pessoas) dentro dos limites das chamadas "mentiras sociais", necessárias à boa convivência de todos. A Operação Lava Jato é educativa. Mostra que é melhor ser réu confesso do que culpado mentiroso.

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