Riscos, por Reginaldo Villazón

Os bancos já foram considerados improdutivos, no pensamento econômico clássico, porque eles nada produzem que sirva de utilidade direta às pessoas. Em especial, eles trabalham com dinheiro, cuja serventia essencial é permitir a compra e venda de bens e serviços. Os bancos surgiram com o comércio e se fortaleceram com o capitalismo. Diversificaram e refinaram suas operações até formar o influente sistema financeiro. Por sua importância, é certo que o sistema financeiro vai estar presente na economia pós-capitalista.

Hoje, muitas vozes anunciam mudanças dramáticas no mundo. Profetas, cientistas e ativistas aguardam profundas alterações planetárias, mas com a esperança de alcançar um mundo melhor depois das tormentas. Parece que eles têm razão, inclusive quanto à época: a partir deste século XXI. A população mundial é grande – 7,2 bilhões de pessoas – e não tem senso para cuidar do planeta e sobreviver até o fim do século (85 anos). Analistas financeiros engrossam o coro de vozes: pode haver graves crises financeiras.

Há poucos anos, vimos como uma crise financeira pode evoluir. Bancos dos Estados Unidos emprestaram dinheiro a clientes que não tinham boa capacidade de pagamento, mas colocaram suas casas como garantia dos empréstimos. Porém, o mercado imobiliário entrou em recessão, o valor dos imóveis caiu e assim a garantia dos empréstimos ficou insuficiente. Prejudicados, os bancos cessaram os financiamentos. Os compradores de imóveis sumiram. A crise (imobiliária e bancária) afetou o emprego, a renda e o consumo no país.

Esta recessão econômica, eclodida em 2008 nos Estados Unidos, afetou o mundo. Grandes bancos anunciaram prejuízos bilionários. Empréstimos hipotecários, comprados na forma de títulos de crédito por outros bancos, também deram prejuízos. Os negócios e o comércio sentiram os efeitos. Bancos, corporações e bolsas de valores do mundo sofreram perdas. Foi possível ver que hoje o sistema financeiro e a economia estão interligados em nível mundial. Tal como grandes ondas, a recessão atingiu a economia global.

Agora, os analistas financeiros se inquietam com os "derivativos de crédito" em poder dos bancos – os contratos efetuados com base em variações de juros, câmbio, preços de ações e outros –, no valor de 1,50 quatrilhões de dólares (20 vezes a economia mundial). Ao lado disso, há muitos países endividados – como Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, China, Japão, Itália, Holanda, Espanha – e isto pode trazer dificuldades sérias, como a necessidade de aumento de impostos, corte de benefícios sociais e paralisação de investimentos.

Caso esta bomba-relógio econômica detone – dizem os analistas –, o tamanho da crise vai fazer a recessão de 2008 parecer um piquenique. Portanto, não faltam motivos para temores e esperanças neste século, ainda que uma terceira guerra (nuclear) passe longe. Os governantes e os povos continuam tendo boas oportunidades de treinar a solidariedade e o respeito, promover os oprimidos, acolher os refugiados, integrar os diferentes, zelar dos animais, preservar a natureza. Pois esta é a tarefa que de fato importa ao ser humano: a sua civilização.

Comentários