Governabilidade e laboriosidade, por D. Demétrio Valentini

 
O contato direto com as famílias, nestes dias de "semana missionária", colocou às claras a real situação que o povo está vivendo, com o agravamento da crise econômica. O fantasma do desemprego vai tomando forma bem concreta, com a demissão de funcionários, na tentativa de diminuir custos, e assim manter viáveis as empresas.

Dada a importância estratégica da mão de obra, o bom senso sugere, sempre que possível, manter o quadro de funcionários, mesmo que isto implique diminuição de salários, com entendimento prévio, feito de acordo com a legislação em vigor. Mas, em todo o caso, manter os postos de trabalho é uma boa tentativa para segurar o alastramento da crise.

Ao mesmo tempo, há situações limites em que as demissões se tornam inevitáveis. Neste caso, é admirável conferir, como nestes dias deu para observar, a seriedade e o empenho com que pessoas desempregadas buscam outro serviço, mesmo recebendo menos, mas garantindo uma entrada mensal conseguida por seu trabalho, sem logo buscar os benefícios decorrentes do "seguro desemprego".

Dada a forte interação, no Brasil, entre economia e esfera estatal, nestes momentos aumenta a responsabilidade dos agentes públicos, cuja ação tem repercussões diretas na ordem econômica. Mas para que possam exercer suas funções, eles precisam de espaço para as providências que acharem necessárias ao momento em que o país vive.

O governo, sobretudo em nível federal, onde se tomam as decisões macroeconômicas, não pode ser sistematicamente obstruído, como vem acontecendo pela ação estabanada de alguns políticos que querem tirar proveito dos problemas enfrentados pelo governo, para faturarem em benefício pessoal as dificuldades em que se encontra o país.

Diante da crise, aumentam as responsabilidades dos políticos. Nesta hora, eles podem comprovar sua competência e honestidade, ou se encaminhar para serem rejeitados pelos eleitores.

Como sempre, os momentos de crise são propícios para tirar lições importantes, e descortinar novos horizontes.

Neste contexto, se faz necessária uma reflexão sobre a importância do trabalho, e sobre a urgência de corrigir desvios que possam estar acontecendo. É preciso ter a coragem de colocar o dedo na ferida, e constatar que vai se criando uma sub cultura de aversão ao trabalho, e de acomodação na dependência dos benefícios que os programas governamentais providenciam para os mais necessitados.

Há gente que, simplesmente, não quer trabalhar.

Isto coloca um verdadeiro desafio, não só para o governo, mas para o país. Este desafio, é preciso reconhecer, já vem sendo enfrentado pelos agentes que coordenam os programas assistenciais do governo. Mas se requer uma ação mais ampla, de reeducação para o trabalho, e de claras providências para desencorajar os que se imaginam com direito de viver na ociosidade, beneficiando-se dos frutos do trabalho alheio.

Sempre é possível tirar lições positivas dos momentos de dificuldade pelos quais se passa. O governo deve ser cobrado pelo que é de sua competência realizar. Mas ele tem o direito de contar com as prerrogativas que a constituição lhe garante. E cada cidadão é chamado a dar sua contribuição pessoal para a superação das dificuldades em que o país se encontra.

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