Na estrada, por Reginaldo Villazón

A vida é uma estrada, da qual desconhecemos o começo e o fim. O viajante que se vê sozinho na viagem descobre a realidade do trecho que percorre. Mas, coletivamente, sabemos que a estrada é longa. As gerações de viajantes se sucedem e a estrada continua sem fim. Embora ela se estenda em ciclos, estes não se fecham como num circuito de automobilismo. Os ciclos abertos e ascendentes não permitem que a estrada seja igual, não permitem que a vida se repita. A estrada apresenta uma grande variedade de traçado e paisagens.
Hoje, respiramos a tranqüilidade pós-eleitoral. Terminaram as propagandas, os debates, as pesquisas e as expectativas. Voltamos à vida normal e, aos poucos, avaliamos melhor os acontecimentos eleitorais. Marina Silva (PSB) mostrou-se inteligente e ética. E não se afundou na lama de escândalos. Mas não conseguiu reter a confiança dos eleitores ao receber críticas pesadas dos seus oponentes, pois tem o um passado forte no PT e o presente conectado no PSB (partido que não é seu). Sua tentativa eleitoral não deu certo.
Muitos intelectuais e analistas políticos se declararam horrorizados com a atuação de Dilma Rousseff (e seu partido, PT) e Aécio Neves (e seu partido, PSDB). Disseram que esta foi a pior campanha eleitoral, a mais degradante, do período democrático pós-ditadura militar. As acusações mútuas aconteceram sob escândalos de ambos os lados. A luta pelo poder e seus privilégios foi esganiçada. Dilma Rousseff (PT) venceu por margem apertada. Fez um discurso padrão de conciliação nacional e renovação de promessas.
Vistas, assim, as eleições de 2014 foram ruins. Nada de novo e importante aconteceu no âmbito dos candidatos e seus partidos. Muitas verdades eleitorais antigas foram aplicadas e justificadas, sem contribuição para a qualidade das eleições. Porém, vistas pelo lado do povo, as eleições deixaram claro que houve uma evolução do eleitorado brasileiro. Chega a causar espanto, o quanto grande parte do eleitorado brasileiro migrou suas intenções de voto, procurando fazer a melhor escolha possível, sem fixação em nomes e partidos.
O mapa dos resultados eleitorais, por estado, mostrou um Brasil dividido quase ao meio. A parte de cima, tingida pela cor vermelha do PT. Para as famílias pobres desta região, os R$ 70,00 a R$ 230,00 do programa Bolsa Família são indispensáveis para a sobrevivência. Esta renda beneficia 50 milhões de pessoas e é o maior volume de dinheiro circulante em muitos povoados. A parte de baixo do mapa, tingida pela cor azul do PSDB, abriga a população mais desenvolvida e mais preocupada com o crescimento econômico.
A política faz parte da vida, dessa estrada em que a espécie humana evolui. Pensando assim, de repente, percebemos que a classe política pode ser menos importante na história presente do país. Mais importante, sim, o povo. O povo vê a realidade e respeita as retas, as curvas, as subidas e descidas da estrada. A elite política, nestas eleições, comportou-se com desatenção. Não viu curva, aclive, declive, sinalização, nada. Suas atitudes vão deixá-la fora do eixo da estrada. O povo segue na estrada, mais consciente e determinado.

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