As perdas e os riscos do excesso de veículos

Por Aila Morais Vieira de Carvalho; Cosme Cicero de Freitas e Marçal Rogério Rizzo
Há uma música composta e cantada por Amado Batista chamada "O ônibus" que diz o seguinte: "Sossega, que nessa terra sempre tem um jeitinho / E onde só cabem 36, tem 126 a maior / Não me empurra que eu já vou descer / Naturalmente se eu sobreviver, neste ônibus [...] Minha carteira você já levou, ou / Manda escrever, desça sem bater, por favor, / A minha casa já ficou pra trás / Tá um pouquinho lotado demais, este ônibus [...]". A reflexão aqui vem a calhar, pois, realmente, usar transporte público na maioria das cidades do Brasil é algo equivalente a pagar pecados. Por outro lado, há dezenas de músicas que exaltam o automóvel.
A linha mestre que vale ser seguida é que o transporte público no Brasil é caótico, o que contribuiu diretamente para que, nos últimos anos, milhões de automóveis e motocicletas ganhassem as ruas das cidades brasileiras.
Contudo, acreditamos que o motivo principal para tal ocorrência foi o incentivo que o governo concedeu para a aquisição de veículos, cujo objetivo era aquecer a economia. Uma análise desapaixonada da evolução do país ao longo dos últimos 20 anos mostrará grandes avanços. Destaca-se ainda, que o poder de compra dos brasileiros aumentou devido ao Plano Real e a melhorias das taxas de crescimento econômico do país nos últimos anos.
Entretanto, o que deve ser discutido neste artigo é o custo gerado por estes milhões de automóveis a mais nas ruas. Problemas se ampliaram, como a poluição do ar, doenças respiratórias, acidentes e trânsito caótico. Dados de um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas apresentados na grande mídia revelaram que as perdas do ano de 2013 somaram R$ 50 bilhões somente na cidade de São Paulo. Tais cifras já superam o orçamento da administração municipal de São Paulo.
Para se ter uma ideia, a frota de automóveis cresceu surpreendentemente no país. Em 2002, eram 35,5 milhões e em 2012 o número saltou para 83,5 milhões, crescendo 135% em uma década. Como já dito, uma das alavancas para este aumento foram os incentivos oferecidos pelo governo (a partir de 2008) para impulsionar o consumo no país, com a redução ou isenção do IPI, facilidade à obtenção de crédito e maiores prazos para pagamento. Essa mistura explosiva de incentivos resultou na inserção de 30 milhões de veículos a mais nas ruas até 2012.
Existem fatos que passam despercebidos. Você sabia que a poluição do ar faz mais vítimas que os acidentes? Uma pesquisa realizada pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade em parceira com a Câmara Municipal de São Paulo intitulada "Mobilidade Urbana e Poluição do Ar: A Visão da Saúde" mostrou que: "Respirar ar poluído mata. Em 2011, 17.443 pessoas morreram no Estado de São Paulo em decorrência de doenças influenciadas pela inalação de ar poluído – como as cardiovasculares, pulmonares e o câncer de pulmão. Esse número é mais que o dobro do de pessoas mortas em acidentes de trânsito (7.867), quase cinco vezes maior do que o de mortes provocadas por câncer de mama (3.620) e quase 6,5 vezes superior ao de mortes em decorrência da AIDS (2.922)".
É relevante alertar que o Brasil convive com ruas ocupadas parcialmente com condutores despreparados, imprudentes, infratores e às vezes embriagados passa a ter que se preocupar com a poluição provocada pelo elevado número de veículos.
Assim, vislumbra-se em horizonte não muito distante, uma crise de mobilidade e de saúde pública. Existem grandes desafios a serem enfrentados como: melhorar o transporte público no país; coibir desde já que milhares de veículos continuem a chegar às ruas e incentivar o uso de meios de transporte alternativos, como é o caso das bicicletas que são um meio transporte simples e eficiente na qual é utilizada por mais 50% da população de Amsterdã na Holanda e tem trazido inúmeros benefícios para a qualidade de vida dessas pessoas, como a mobilidade rápida e a diminuição significante da poluição atmosférica nestas cidades. Por que o Brasil não segue tais exemplos?
Aila Morais Vieira de Carvalho: Acadêmica do curso de Administração – Câmpus de Três Lagoas (MS). E-mail: aila_morais@hotmail.com
Cosme Cicero de Freitas: Acadêmico do curso de Administração – Câmpus de Três Lagoas (MS). E-mail: csmfreitas@hotmail.com
Marçal Rogério Rizzo: Economista e Professor do curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas . E-mail: marcalprofessor@yahoo.com.br

Comentários