Vínculos

por Reginaldo Villazón

Fábio José Feldmann, nascido na cidade de São Paulo em 1955, é um caso especial na vida política e fora dela. Formou-se em administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas e em direito na USP. Tornou-se ambientalista e elegeu-se deputado constituinte pelo PMDB aos 31 anos. Participou da fundação do PSDB e, por este partido, cumpriu três mandatos sucessivos de deputado federal. Foi secretário estadual de meio ambiente no governo de Mário Covas. Concorreu a governador pelo Partido Verde em 2010, mas não foi eleito.

No cumprimento dos seus mandatos de deputado federal – ao contrário da maioria dos parlamentares (que pouco realiza) –, Fábio Feldmann concretizou uma extensa lista de trabalhos importantes relacionados ao meio ambiente. Na secretaria estadual de meio ambiente, idealizou o Programa de Restrição à Circulação de Veículos (Operação Rodízio) para reduzir a poluição na região metropolitana de São Paulo. Na condição de ambientalista, teve atuação destacada em eventos oficiais e não-governamentais no Brasil e no exterior.

Em 2011, sob o título "A vida fora dos partidos políticos", Fábio Feldmann anunciou sua desfiliação do Partido Verde, mas que continuaria a atuar "acima dos partidos políticos" junto aos movimentos de cidadania na busca de alternativas de desenvolvimento justo e sustentável. Explicou que viu o sistema político partidário isolar-se da sociedade e fechar-se diante dos temas relevantes para o povo. Finalizou que descia do ônibus partidário como quem desce de um ônibus sucateado e abandonado à beira do caminho.

O que dizer de um político bem sucedido, quando rejeita o sistema político partidário? Quando opta por dirigir sua empresa de consultoria ambiental e participar das lutas sociais como cidadão comum? Terá sido um caso isolado de desapontamento? Dois anos depois, em junho de 2013, as manifestações populares – contra as tarifas dos transportes, a qualidade dos serviços públicos, a corrupção e os gastos oficiais com eventos esportivos – martelaram a mesma tecla. Rejeitaram as siglas, as cores e os ativistas dos partidos políticos.

Os vínculos estão em declínio. Na política, hoje não existem apegados como os udenistas, pessedistas e petebistas de antigamente. Nem como os getulistas, ademaristas e janistas. Os próprios partidos políticos estão desligados de ideologias (socialismo, liberalismo, trabalhismo). No futebol, boa parte da população não se liga à seleção brasileira e até se opõe à copa do mundo no país. No âmbito dos que acreditam em Deus, as estatísticas mostram o crescimento de não-religiosos e de religiosos sem vínculo com suas religiões.

Não será possível descobrir saídas para voltar tudo ao que era antes. É fácil ver que a sociedade mundial passa por grandes mudanças. Há dificuldades e sofrimentos, mas as mudanças requerem boas respostas. As instituições precisam evoluir para sustentar a sociedade na transição para novos tempos. Pensadores admitem até a busca de novos modelos de governo, política e economia para as grandes democracias. Da qualidade de vida urbana à sustentabilidade planetária, tudo é importante e precisa ser tratado de forma objetiva.

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