Pequenas ideias

Reginaldo Villazón

A liberdade nada tem de objetivo, concreto e definitivo. Quando alguém é questionado se tem liberdade, a resposta pode variar de um "sim" convicto a um "não" compenetrado. Diante da vida, a percepção do indivíduo sobre a sua liberdade pode gerar sensações de segurança e conforto, mas também de impotência e frustração. Pensar na própria vida, reavaliar prioridades e alimentar sonhos deságuam no mar revolto da liberdade.

Quando nasce, o indivíduo entra num processo de adequação à vida, inicialmente imposto pelos médicos e pais. O bebê é submetido à rotina dos banhos, alimentação e dormidas. Na infância, aprende que há muitas coisas que não podem ser feitas ou faladas, porque são erradas. Em casa e na escola, pela educação, disciplina-se no cumprimento de normas indispensáveis à segurança, saúde e convivência.

Por mais que a nação se classifique moderna e democrática, tem que estabelecer limites legais para conter os excessos, considerando que as atitudes extremadas prejudicam a unidade do povo e os atos de rebeldia afetam a segurança nacional. Foi por isto que os movimentos revolucionários de libertação, sem exceção, venceram os tiranos em nome da liberdade, porém tiveram que fixar novos direitos e deveres aos cidadãos.

Discute-se, por exemplo, se as desigualdades existem em função da liberdade ou da restrição da liberdade. A promessa de liberdade – embutida na frase "igualdade, fraternidade e solidariedade" – atenuou, mas não eliminou as desigualdades sociais. O capitalismo, o liberalismo e o neoliberalismo – tidos como sinônimos de liberdade econômica – criaram classes de alta, média e baixa renda, mais os marginalizados ou excluídos.

A sociedade – através das suas instituições e lideranças – inspira padrões de conduta, apesar de hoje adotar uma atitude mais tolerante contra o que transgridem os códigos sociais. Por isto, vive-se um período de mais liberdade. Jovens fazem passeatas contra políticos e leis, em favor dos relacionamentos homossexuais e da liberação da maconha. Homens e mulheres optam por profissões sem discriminação. O corte e a coloração do cabelo são livres.

Parece mesmo que a ordem e a desordem sejam opostas e necessárias. Que os limites à liberdade devam existir, mas precisem ser transgredidos. Que ninguém possa ser inteiramente livre ou totalmente privado da liberdade. Toda pessoa deve ser consciente de que não pode fazer tudo o que deseja e deve respeitar as leis e os costumes. Deve saber transgredir, fazer valer a liberdade individual quando for conveniente.

No âmbito estritamente individual, a pessoa se sente podada – destituída da liberdade – quando espera receber um "sim", mas recebe um "não". Assim, fica impedida de iniciar algo novo. Em muitos casos, o "não" sequer é pronunciado. A indiferença é suficiente para negar apoio às iniciativas e sepultam expectativas de progresso. Este é um fato comum, freqüente, que abate o entusiasmo das pessoas com o passar dos tempos.

Em qualquer idade, vez por outra, aflora a vontade de pôr em prática uma idéia nova. O convite para adesão de companheiros cai no vazio. Novamente, há a sensação de impotência, exclusão e subjugação. A receita perfeita é optar por pequenas idéias e realizá-las com carinho e dedicação, mesmo sem apoio. Muito sucesso já aconteceu a partir de alguém, sozinho, esculpindo sem pressa um pedaço de madeira.

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