Como girassóis

Reginaldo Villazón
A História narra que o cientista grego Arquimedes (287 a 212 a.C.) foi um pioneiro no uso de espelhos para concentrar a luz do sol. Ele era da cidade de Siracusa (Itália), que na época pertencia à Grécia. Para defender Siracusa numa guerra, Arquimedes usou espelhos para projetar a luz do sol contra os navios romanos e assim queimá-los com o calor. Se ele obteve sucesso, há dúvidas. Mas o fato está registrado.
Experiências importantes se sucederam. Em 1913, junto ao Rio Nilo, no Egito, o engenheiro norte-americano Frank Shuman inaugurou a primeira usina de energia solar concentrada. Os espelhos em forma de cochos (curvos e compridos) aqueciam com a luz solar a água contida em canos de vidro. A água se tornava vapor quente, suficiente para bombear 6.000 litros por minuto de água do rio para irrigação.
Nos Estados Unidos, no Deserto de Mojave, desde 1990, está em franca operação um sistema de 9 usinas de energia solar concentrada com capacidade de suprir 230.000 casas com energia elétrica. Os espelhos curvos concentram a luz solar em tubos com óleo sintético, que se aquece a mais de 400 graus. O calor é transferido para a água, que ferve e vira vapor com força capaz de mover as turbinas para geração de energia elétrica.
Os resultados positivos dessas usinas, em princípio, devem-se aos locais de instalação que recebem boa insolação durante a maior parte do ano. Há fatores técnicos decisivos, como o movimento dos espelhos – do nascer ao pôr do sol –, como fazem os girassóis, que acompanham o sol para receber o máximo de luz. Na usina do Egito o sistema de movimento dos espelhos era mecânico; nos Estados Unidos é eletrônico.
A Espanha, em 2007, pôs em operação a primeira usina de energia solar concentrada com torre. Nesta usina, denominada Planta Solar 10, os espelhos móveis concentram a luz solar na abertura existente numa torre de concreto de 160 metros. Uma mistura gasosa se aquece a mais de 400 graus e transfere o calor para a água, que se torna vapor e aciona uma turbina com gerador de energia elétrica.
Em 2011, a ousadia espanhola foi maior: o país inaugurou uma usina de energia solar concentrada com torre, com autonomia para operar dia e noite, 24 horas por dia, sem interrupção. A usina Gemasolar, com 2.650 espelhos e torre de 140 metros de altura, numa área de 185 hectares, aquece uma mistura de sais que pode ficar armazenada em estado líquido, na temperatura de 500 graus, para uso em até 15 horas. 
A energia solar concentrada, que produz vapor e gera eletricidade, também é aplicada em placas fotovoltaicas para gerar eletricidade. Assim, cresce no mundo a indústria de energia solar concentrada. O custo de construção das usinas cai, a eficiência da produção aumenta e o preço final da energia diminui. Países ricos em petróleo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos já iniciaram seus investimentos.
O físico alemão Gerhard Knies afirma que uma pequena parte dos desertos do planeta pode abastecer a população mundial com energia limpa e renovável. Há anos ele defende um projeto multinacional no Deserto do Saara. Os grandes investidores começam a olhar os desertos com outros olhos. As terras áridas poderão se tornar, nas décadas vindouras, pólos de oportunidades, soluções e progresso. 

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