Primavera no Egito

Reginaldo Villazón
O Egito tem uma história de dez mil anos. É um dos berços da civilização do planeta. Sua antiga e extraordinária civilização, na qual reinaram os faraós (detentores de poderes humanos e divinos), deixou no país monumentos valiosos como a esfinge, as pirâmides, os templos e obeliscos. Mas a proclamação da república, há 60 anos, não foi suficiente para o país tornar-se uma democracia.
O Egito – atual República Árabe do Egito – tem localização relevante no Norte da África. É banhado pelo Rio Nilo em seu interior, pelo Mar Mediterrâneo ao Norte e pelo Mar Vermelho a Leste. Faz divisa com a Líbia, o Sudão e Israel. Está próximo da Arábia Saudita, Jordânia, Turquia e Grécia. Sua capital, Cairo, é a maior cidade do mundo árabe. Sua segunda cidade, Alexandria, é importante porto no Mar Mediterrâneo.
O país tem 80 milhões de habitantes, a maior população do mundo árabe. Seu Produto Interno Bruto em 2011, estimado pelo Fundo Monetário Internacional, colocou-o em 44º. lugar na lista mundial de 183 países. A economia é francamente capitalista, com Bolsa de Valores e bancos nacionais e internacionais. A língua oficial é o árabe, mas parte da população também fala inglês e francês.
Este país, durante o recente período republicano, foi governado por quatro presidentes militares. O último deles, Hosni Mubarak (corrupto e violento), ficou no poder por quase 30 anos. Renunciou em 2011, após 18 dias de pressão popular, quando milhares de pessoas saíram às ruas, exigindo o seu afastamento. Ele foi preso e, no ano seguinte, julgado e condenado à prisão perpétua.
Isso foi uma das ondas da Primavera Árabe, a sucessão de manifestações populares, em favor da democracia, que começou na Tunísia em 2010 e se estendeu por vários países do mundo árabe. Houve grandes passeatas, pequenos protestos, comícios, greves e campanhas nas mídias sociais. Como resultado, houve mudanças políticas em governos, deposição de governantes e conflitos armados.
Em 2012, o político civil Mohamed Morsi, do Partido da Liberdade e da Justiça, foi eleito presidente do Egito num processo eleitoral democrático. Mas descumpriu suas promessas eleitorais. Tentou cercar-se de militares da sua confiança pessoal, ampliar seus poderes e favorecer seus companheiros da comunidade islâmica. Sua política econômica desagradou o povo. Novas manifestações em 2013.
Esta semana, no último dia 03, o general-chefe do Exército anunciou a destituição de Mohamed Morsi e a nomeação do chefe da Suprema Corte Constitucional à presidência interina, até novas eleições. Apesar da apreensão dos observadores políticos, que chamaram o episódio de "crise", parece que o caso bem é outro. No Egito hoje, por conta do povo, o clima não é favorável a golpes antidemocráticos.
As manifestações populares foram muito consistentes. Desde a deposição de Hosni Mubarak, na Primavera Árabe em 2011, o povo egípcio não dá sinais de obediência passiva ao governo. Parece, isto sim, que o país não está em crise. Tudo indica que o povo egípcio está alerta e continua vigilante da sua democracia, conquistada depois de muitos anos de servidão e sofrimento.

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